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Análise: Morte de opositor de Putin “queima de arquivo”?

Postado às 05h19 | 25 Ago 2023

Ney Lopes

Na Rússia, há uma longa lista de pessoas, incluindo críticos e empresários, que tiveram uma morte súbita — além de envenenamentos, supostas quedas de janelas — ou escaparam de algo semelhante.

O líder do grupo paramilitar russo - que iniciou uma rebelião contra Putin em junho -, Yevgeny Prigozhin, de 62 anos,  estava em avião particular, que caiu na última quarta-feira, matando todos os que estavam a bordo.

Muitas zonas cinzentas e questões rodeiam as circunstâncias e a origem do acidente.

Ninguém quis anunciar taxativamente que “Prigozhin está morto.”

Nas redes sociais, começaram a circular imagens, que mostram o avião caindo, com chamas numa asa.

Os mercenários sustentam que a queda não foi um acidente.

O  avião terá sido abatido pelas defesas antiaéreas russas.

Segundo a Embraer, fabricante do avião sinistrado, em 20 anos só há registo de um acidente com este modelo específico de avião, que não se deveu a falha mecânica.

Prigozhin, um ex-presidiário, vendedor de cachorro-quente e chef de cozinha, virou milionário graças a contratos públicos e líderança de mercenários.

Tinha inúmeros admiradores no seu grupo e na população russa.

Muitos testemunharam a calorosa recepção em Rostov-on-Don, quando ele apareceu lá há dois meses.  

Putin temia que ele desejasse ser presidente da Rússia.

No dia da caminhada de milhares de mercenários no rumo de Moscou, liderados por Prigozhin, Putin foi à televisão e gaguejou ao pedir o fim da insurreição, para que não houvesse derramamento de sangue.

Aí surgiu a mediação do Presidente bielorrusso Lukashenko, que colocou água na fervura, mas expôs a fragilidade de Putin, deixando-lhe uma imagem de fraco perante a comunidade internacional.

Diante de tantas controvérsias, surge a indagação: foi Putin que mandou matar Prigozhin, a quem acusou de dar-lhe uma “facada nas costas”, chamando-o de “traidor”?

Vladimir Putin não perdoa traidores, nem aqueles que o desafiam.

O seu opositor mais veemente Alexei Navalny está atualmente definhando numa colônia penal. 

Ele também sobreviveu a uma tentativa de assassinato por envenenamento, depois de quase morrer a bordo de um voo que passava pela Sibéria em 2020.

Observadores russos consideravam Prigozhin “um homem jurado de morte”.

Pela história do Kremlin no tratamento de adversários políticos, esta era uma morte anunciada.

A maioria dos que perderam suas vidas de forma misteriosa na Rússia nos últimos anos eram pessoas próximas ao governo que ousaram criticar o presidente russo em algum momento ou falharam na execução de tarefas.

Apesar de não haver ainda nenhuma prova que ligue o presidente russo à morte de Yevgeny Prigozhin, o fato ocorreu dois meses após a rebelião dos paramilitares liderada por ele.

A seguir, os nomes de algumas de pessoas, que, assim como Prigozhin, tinham proximidade com o Kremlin e morreram em condições suspeitas.

Alexander Tyulyakov - aparente suicídio; Dan Rapoport - empresário e filantropo antigo crítico de Putin. Rapoport, empurrado de uma janela de edifício; Ravil Maganov – presidente da segunda maior empresa de petróleo da Rússia. Expressou simpatia pela Ucrânia e pedido o fim da guerra. Morreu supostamente tendo caído e uma janela de um hospital; Anton Cherepennikov - já havia trabalhado dentro do governo de Vladimir Putin. Encontrado morto por suposto ataque cardíaco. E inúmeras outras vítimas.

As mortes misteriosas de críticos e dissidentes do governo russo ocorrem há bastante tempo, bem antes da invasão russa à Ucrânia.

O destino de Prigozhin confirma os riscos fatais e as consequências de se opor às políticas e ações do Kremlin.

Todos esses fatos e circunstancias descritos levantam a hipótese, de que a morte de Prigozhin tenha sido mesmo “queima de arquivo”.

Aguardemos.

 

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