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Análise: Lula pode ter recebido um “presente de grego”

Postado às 05h51 | 11 Set 2023

Narendra Modi, primeiro ministro da Índia e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ney Lopes

Assumir o comando do G 20 era a maior aposta internacional do mandato de Lula.

O G-20 é o principal fórum de cooperação econômica internacional, apoia o crescimento e o desenvolvimento mundial, por meio do diálogo sobre políticas nacionais, cooperação internacional e instituições econômico-financeiras globais.

O objetivo foi atingido.

O Brasil assumiu a Presidência simbólica do G20 neste domingo, 10, durante a Cúpula de Líderes do bloco, em Nova Délhi, na Índia.

O presidente recebeu o martelo, que representa a liderança do grupo das mãos do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.

Todavia, só assumirá a presidência de fato em 1º de dezembro, quando a Índia encerra o  seu mandato.

Este não é o melhor momento para o Brasil presidir o G20.

Poderá significar um “presente de grego”, diante de crises que ameaçam até a própria sobrevivência do bloco.

Uma das dificuldades neste G 20 foi a guerra da Ucrânia, pelo fato da Rússia não aceitar qualquer crítica neste sentido e ameaçou até sair do G 20.

A solução foi afastar o bloco das principais discussões a respeito do conflito na Ucrânia.

Sem mencionar diretamente a guerra, as conclusões dizem que não se pode deixar que “questões geopolíticas sequestrem a agenda de discussões das várias instâncias do G20”.

Além disso, China e Índia se “bicando”; as questões climáticas; pedidos retóricos sobre reforma da ONU, organismos multilaterais e outros problemas.

Todas essas questões desafiarão a capacidade de liderança de quem comande o G 20.

O presidente Lula terá muito trabalho na busca da unidade.

Aumenta o conflito de interesses entre as nações integrantes do bloco.

As conclusões aprovadas em Nova Délhi são “cuidadosas” e vagas, quase subjetivas, sem responsabilizar a Rússia na a guerra na Ucrânia.

Uma consequência econômica, que favorecerá o Brasil, foi o lançamento à margem da cúpula, da Aliança Global de Biocombustíveis, que tem como objetivo aumentar a produção e o consumo principalmente de etanol no mundo.

Assinaram o acordo Brasil. Índia e Estados Unidos, que estão entre as três maiores produtoras de etanol do mundo.

Se Índia, Estados Unidos, Brasil e Rússia saíram ganhando com o texto, parece claro que Ucrânia e China são os principais derrotados.

O primeiro porque perdeu o apoio incondicional do bloco e o segundo, porque viu crescer o cacife da Índia como protagonista da diplomacia mundial na Ásia.

Duas ausências esvaziaram a importância política da cúpula.

Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin e da China, Xi Jinping, não apareceram.

Putin corria o risco de ser preso por ter sido condenado pelo TPI (Tribunal Penal Internacional) em março de 2023 por suposto crime de guerra e transferência ilegal de crianças de áreas ocupadas da Ucrânia para a Rússia.

No caso do líder chinês, uma disputa territorial com a Índia o afastou.

Além disso, os indianos estão com uma política de aproximação dos Estados Unidos, que contraria a China

Agora é aguardar que o Brasil, com a presidência do G20, possa ter maior protagonismo na política internacional e use esse instrumento como meio de reativar as nossas parcerias estratégicas.

Se a nossa política externa for feita a base de ideologias, com certeza não alcançaremos nenhum resultado positivo.

Esperar para ver!

Post scriptum - Quando os líderes das nações do G20 entraram no memorial Rajghat para Mohandas K. Gandhi, amado pai da independência da Índia assassinado em 1948, o presidente Narendra Modi colocou no pescoço de todos lenços brancos feitos à mão. 

A peça é um símbolo chave da resistência não violenta, que ajudou a conquistar e livrar o país do domínio colonial britânico.

 

 

 

 

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