Análise: "Lula na ONU: prós e contras"
Postado às 05h11 | 21 Set 2023
Ney Lopes
O Brasil abre a Assembleia-Geral da ONU, desde 1947.
Oswaldo Aranha foi quem inaugurou a tradição.
A partir de 1982, os diplomatas deram lugar aos presidentes da República.
Volta - O presidente Lula voltou à ONU, quatorze anos depois de discursar na instituição pela última vez.
Com discurso focado nas desigualdades sociais, censurou o atual sistema de governança global, inclusive o funcionamento do Conselho de Segurança.
Exageros - Se Jair Bolsonaro, em 2019, criticou na ONU o “comunismo”, do qual disse ter salvo o Brasil, Lula mencionou o “neoliberalismo” e a extrema direita como fontes de agravamento da desigualdade social.
Ambos exageraram nas posições ideológicas extremadas.
Ficou claro o desejo de Lula em assumir posição de liderança mundial.
Usou expressões do populismo internacional para atrair adeptos.
O pronunciamento teve “prós e contras”.
Contra I – Condenou a extrema direita e esqueceu o radicalismo da extrema esquerda.
Como um disco de vitrola arranhado, colocou todas as desgraças do mundo na conta do neoliberalismo.
Nenhuma palavra de censura sobre as atrocidades contra os direitos humanos pelos seus amigos ditadores da Venezuela, China, Nicarágua, Cuba, Rússia e Coreia do Norte.
Contra II – Foi confuso, quando falou da guerra da Ucrânia.
Voltou a criticar as sanções ocidentais impostas à Rússia.
Contra III- Ao defender a liberdade de imprensa usou premissa verdadeira para defender conclusão de risco.
Defendeu a liberdade do jornalista australiano Julian Paul Assange, sob custódia da Polícia de Londres, que divulgou 700.000 documentos confidenciais sobre as guerras do Iraque, Afeganistão e comunicações do Departamento de Estado.
Causou danos à segurança americana, em benefício de adversários e colocou “fontes humanas” em iminentes riscos de vida.
Se fossem informações, que colocassem o Brasil em perigo, Lula teria feito a mesma defesa?
Prós I- Combateu as desigualdades sociais em todas as suas dimensões, em conexão com o G20, que preside no momento. Disse que falta "vontade política" para acabar com o problema no mundo e 735 milhões de pessoas vão dormir "sem saber se terão o que comer amanhã".
Representou os países em desenvolvimento.
Prós II – Manifestou-se contra o embargo econômico americano à Cuba, cuja suspensão foi tentada pelo ex-presidente Obama.
O curioso é que quando há interesse americano, o país permite a importação de produtos cubanos, sobretudo remédios, mas mantém o embargo há meio século.
Prós III – O presidente colocou muito bem a política de preservação do meio ambiente e do multilateralismo.
Afirmou que os países desenvolvidos são os principais responsáveis pela crise climática, por serem os maiores emissores de carbono.
Conclusão – No geral, o pronunciamento repercutiu favoravelmente ao presidente brasileiro, embora o tom contundente das críticas tenha lembrado a máxima de Gandhi: “semear é fácil, o difícil é escolher a semente”.
Post scriptum – Após a instalação da Assembleia da ONU, o presidente Lula reuniu-se ontem, 20, com os presidentes Biden dos Estados Unidos e Zelenski, da Ucrânia.
Ambas reuniões estavam cercadas de expectativas.
Pelas posições de Lula na China e Ucrânia e aproximação com Putin, a diplomacia americana mantinha reservas sobre a sua linha de ação.
Igualmente, o presidente Zelenski chegou a contestar publicamente afirmações do presidente brasileiro.
Ao final, os encontros foram considerados auspiciosos.
Biden identificou-se com Lula na defesa de empregos para os trabalhadores, sugerindo uma pauta comum de direitos básicos.
O presidente americano fez questão de afirmar que seu pai não tinha um diploma universitário e que costumava dizer: “Joe, um emprego é muito mais do que um contracheque. É (a condição de ter) dignidade, auto respeito, e olhar nos olhos de seus filhos e dizer ‘querido, vai ficar tudo bem, de verdade”.
Por seu lado, Lula lembrou o seu passado de luta sindical.
No final, a declaração foi que os dois países vivem um momento "excepcional" e o encontro representou “o renascer de um novo tempo entre o Brasil e os Estados Unidos".
Com Zelenski, a habilidade de Lula evitou maiores choques, diante da impaciência do ucraniano pelos diálogos do Brasil com Putin.
O clima arrefeceu pela insistência de Lula em favor do diálogo de um grupo de países neutros, intermediando as negociações entre Ucrânia e Rússia.
É o chamado "clube da paz", que vem defendendo há meses.
O ministro das relações exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, qualificou a conversa como "calorosa e honesta", na qual cada país entendeu sua posição.
Sem dúvidas, avanços diplomáticos foram obtidos nos dois encontros.
Olho aberto
Sucesso gastronômico – O restaurante “Platter for you” completa um ano de funcionamento, em Natal.
É ponto de referência da gastronomia potiguar.
Funciona à rua Otávio Lamartine, 541.
Cinema – Em Natal, o analista de cinema, séries de TV e comentarista da rádio Jovem Pan de Fortaleza, Olavo Filho.
O endereço do seu conceituado site é olavo@loucoporcinema.com.br .
Definição – O editor da coluna escreveu comentário sobre a amizade histórica da governadora Fátima Bezerra com o presidente Lula e as chances do RN obter a ajuda federal para projetos econômicos e sociais.
Um leitor perspicaz enviou mensagem e resumiu: “Fátima está com a faca e o queijo na mão! ”. É mesmo.
Forças Armadas - Confiança nos generais atinge seu menor índice, na conclusão da última pesquisa Datafolha.
Talvez tenha influído a discordância da cúpula militar em dar um golpe no país, após as eleições.
Incrível, que isso aconteça.
As Forças Armadas deram prova de compromisso inabalável com a democracia e merecem o respeito nacional.
Brasil vs Portugal - Quase 400 mil brasileiros vivem legalmente em Portugal e representam cerca de 40% da população estrangeira.
Só este ano aproximadamente 150.000 adquiriram um título de residência no país.
Universidade de Harvard - Oferece mais de 100 cursos gratuitos online. Alguns deles contam com legendas em português.
Juros – O BC reduziu ontem a taxa de juros de 13.25% para 12.75%.
