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Análise: "Líbano e o pássaro de fogo da mitologia"

Postado às 05h29 | 11 Ago 2020

Ney Lopes

A catástrofe do Líbano, agora se agrava com a renúncia do primeiro ministro. Novas eleições serão marcadas.

Desde 1991 é mantido um “acordo”, que distribui os principais cargos públicos: o presidente da república deve ser cristão maronita; o primeiro ministro, muçulmano sunita, e o presidente do parlamento, muçulmano xiita. O sistema eleitoral libanês é profundamente complexo.

Os 128 membros do Parlamento são eleitos, através de cotas religiosas, concedidas às 18 comunidades religiosas existentes. Metade é cristã de diferentes denominações e metade muçulmana (sunitas e xiitas), além de drusos e alauitas. A votação obedece a listas distritais A eleição aguçará a disputa, sobretudo entre os xiitas do Hezbollah e os cristãos, os dois maiores blocos políticos do país.

O risco de explosões políticas é a influência do grupo Hezbollah, que possui milícia armada, com maior poder do que o Exército libanês, sendo rejeitado pelos Estados Unidos, que considera facção terrorista. A característica do Líbano é viver à beira do abismo e conseguir sobreviver de crise em crise.

Antes da explosão no porto, o país já estava em queda livre, com multidões há nove meses nas ruas, pedindo reformas e exigindo a queda da elite política, acusada de dilapidar os cofres estatais. A economia em frangalhos levou quase metade dos 4,5 milhões de habitantes a caírem abaixo da linha de pobreza. Os preços de produtos básicos aumentaram 60% e mais de 200.000 trabalhadores perderam seus empregos nos últimos meses, o que situa a taxa de desemprego em mais de 35%.

A crise se agrava pela acolhida no território nacional de 1,5 milhão de refugiados sírios e mais de 400.000 palestinos, o que faz do Líbano um dos países com o maior número de refugiados, significando sobrecarga de despesas para os cofres públicos.

Diante de conjuntura tão deteriorada e eleições próximas, a indagação é se o Líbano conseguirá, mais uma vez, transformar-se em nova “fênix”, o “pássaro de fogo” da mitologia grega, que, quando morria, entrava em autocombustão e ressurgia das próprias cinzas.

 

 

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