Postado às 05h57 | 27 Nov 2023
Toquio, a capital
Ney Lopes
Há de tudo na economia global.
Enquanto no Brasil, o clamor geral são os aumentos da taxa SELIC (taxa básica de juros da economia), o Japão atravessa um dilema que é a necessidade de elevar os juros, sem provocar estragos na economia.
A taxa de juros japonesa é negativa, ou seja, o rendimento nominal descontado da inflação no mesmo período resulta em um número menor que zero.
O país foi um dos pioneiros, e adotou a taxa de juro 0 em 2000, antes mesmo da crise internacional.
A taxa de juros em níveis baixos é utilizada não apenas porque há excesso de dinheiro em circulação, mas também para incentivar que as pessoas invistam o seu dinheiro na economia real, direcionado ao mercado e às empresas, gerando emprego, renda e consumo.
O dinheiro perde o seu valor, se não for bem aplicado..
É altíssimo o nível de poupança japonês, daí por que os bancos cobram taxas para deixar o dinheiro de seus clientes parado e estimulam o saque do dinheiro para aplicações.
Em razão disso, os investidores buscam “portos seguros” para seu capital.
Os japoneses investiram trilhões de dólares em outras partes do mundo para fugirem dos rendimentos negativos.
Com taxas tão altas, os investidores japoneses compram títulos do Tesouro americano para tirar vantagem, considerando a valorização desses papéis.
O Japão é agora o maior detentor estrangeiro da dívida do governo dos EUA, de acordo com dados oficiais.
Um fenômeno curioso é que por se interessarem pelos títulos do Tesouro dos EUA, os investidores japoneses aumentaram a demanda por dólares e contribuíram para a queda do iene (moeda nacional).
Como consequência, este ano, o Banco do Japão está sendo forçado a sustentar o iene com subsídios e, ao mesmo tempo, manter as taxas de juros baixas.
O PIB, que só fica atrás de EUA e China, atingiu seu patamar máximo no segundo trimestre, superando o nível pré-pandemia.
O crescimento das exportações justifica essa expansão, até acima do previsto.
O FMI aumentou para 1.4% a previsão de crescimento para o país.
Sem dúvida, neste convulsionado mundo de altos e baixos na economia, o Japão, mesmo destruído na II Guerra Mundial, tornou-se uma ilha de prosperidade.