Postado às 05h11 | 04 Ago 2020
Ney Lopes
Levantamento da “BBC News” constatou, que o número de mortes por covid-19 no Irã é quase o triplo do que o governo divulga. O país continua o mais atingido pela pandemia no Oriente Médio e já começa a enfrentar segunda onda de infecções. O governo suspendeu as restrições e as estatística de vítimas aumentaram.
Esconder a pandemia foi a decisão tomada, desde 22 de janeiro, um mês antes do primeiro caso de coronavírus ser oficialmente registrado. Na época, diversos profissionais de saúde tentaram alertar as autoridades e a população para a disseminação da doença, mas o governo insistiu em negar.
Observe-se que esse comportamento é decorrência do Irã, antes da pandemia, já enfrentar crises internas. A origem foram as pesadas sanções econômicas, aplicadas por Trump, em maio de 2018, que estraçalhou a economia interna do país. Em novembro de 2019, houve drástico aumento no preço da gasolina da noite para o dia, causando violentos protestos e centenas de mortes.
A instabilidade política se agravou, em janeiro deste ano, quando foi morto por forças americanas, o principal general iraniano, Qasem Soleimani, visto como uma das figuras nacionais mais poderosas. O clima de confronto com os EEUU chegou ao ponto das Forças Armadas iranianas dispararem por engano mísseis contra um avião ucraniano, apenas alguns minutos depois da decolagem do aeroporto de Teerã. Todas as 176 pessoas a bordo morreram.
Tais fatos enfraqueceram o governo do aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo, que passou a usar a pandemia para fortalecimento político, acusando os adversários de propagarem “boatos” sobre o coronavírus.
O grande dilema é que, nesta segunda onda, em crescimento, o país não tem condições de impor nova quarentena, por conta dos problemas econômicos internos, já que o Irã, além das sanções econômicas americanas, enfrenta escândalos de corrupção e incompetência administrativa.
Realmente, se trata de conjuntura complexa e difícil, agravada pela dominação de uma ditadura religiosa, sem diálogo com o resto do mundo.