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Análise: “Honra ao mérito” do potiguar Ítalo Ferreira

Postado às 06h11 | 27 Jul 2021

Ney Lopes

O paulista, criado nos mares gaúchos Gabiel Medina, bicampeão mundial de surfe, partiu para competir nas Olímpiadas, levando nada menos do que 12 pranchas para o Japão, com a meta de ser o primeiro campeão olímpico da história.

Mas, na madrugada desta terça, 27, a história foi escrita com outro nome: Ítalo Ferreira, potiguar, colocou a medalha no peito ao confirmar o favoritismo do Brasil, ficando com o lugar mais alto no pódio.

Natural de Baía Formosa (RN), cidade litorânea com cerca de 10.000 habitantes, ele começou a surfar aos 8 anos de idade.

Como não tinha recursos para adquirir uma prancha, tomava emprestada do seu pai, vendedor de peixe, a tampa quadrada do isopor, usada para proteger as mercadorias.

Ao invés do sol típico das águas de Baia Formosa, onde mora no RN, Ítalo competiu na praia de Tsurigasaki, de areia escura e cenário bucólico, sede do surfe nas Olimpíadas.

Ítalo venceu o japonês Kanoa Igarashi, justamente quem eliminara da competição o brasileiro Gabriel Medina.

Emocionado, ele repetiu na TV Globo o que dissera antes:

"Diz amém que ouro vem". E veio.

Quase com lágrimas nos olhos declarou:

Agradeço a Deus pela oportunidade de fazer o que eu amo e ajudar as pessoas, ajudar minha família. Queria que minha avó estivesse viva para ela ver isso. Não tenho palavras, algo que almejei, sonhei. Todo dia eu orei às três da manhã. Recebi uma força imensa não só da minha família, mas de todos os brasileiros”.

A emoção tomou conta de Ítalo, ao citar a sua avó, chamada de Mariquinha.

Ela faleceu antes do título mundial dele em 2019, quando já estava no Havaí para competir. Desde então todas as glórias e conquistas, ítalo dedica a ela, que sempre o apoiou e incentivou.

Não foi fácil o ouro conquistado.

Na primeira manobra, o brasileiro bateu na onda e viu sua prancha partir ao meio.

Ele precisou ir à praia pegar um novo equipamento.

A primeira levada pela comissão técnica não agradou e, na beira do mar, pediu outra.

Nem mesmo esse imprevisto, impediu a vitória do garoto que surfava em tampas de isopor e porta de geladeira, por não poder comprar uma prancha.

Ítalo é uma história de superação, beleza, técnica e carinho.

Seu ouro é mais um marco para que os esportes sejam valorizados no Brasil, a partir do RN.

Ao sair do mar espumoso do Japão, onde vencera um japonês, o perfil de Ítalo estampava a alegria de um rapaz humilde, sem dinheiro, sem parentes importantes, vindo do interior de um estado nordestino, que acabava de conquistar, pela força de vontade, a primeira medalha de ouro olímpica da história do surfe.

Honra ao mérito Ítalo Ferreira!

O RN orgulha-se do seu filho vitorioso.

 

 

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