Análise: "Francisco e Milei se encontram em Roma"
Postado às 05h59 | 12 Fev 2024
Ney Lopes
Neste domingo, os principais líderes políticos e religiosos da Argentina – o Presidente Javier Milei e o Papa Francisco – encontraram-se em Roma, no meio da situação econômica explosiva no país natal de ambos.
Após a missa na Basílica, Francisco, em cadeira de rodas, parou para apertar a mão e trocar algumas palavras com Milei, que deu um abraço no pontífice.
O papa “é o argentino mais importante da história”, disse Milei
No tão esperado encontro, Milei presenteou o Pontífice com alfajores e biscoitos de limão, típicos portenhos.
O encontro não foi formal e superou todas as expectativas.
Milei e o Papa Francisco se abraçaram. Tiveram uma breve troca de palavras (a audiência será nesta segunda feira) , marcada por sorrisos, ligação óbvia entre os dois e o clássico humor de Jorge Bergoglio, arma que ele costuma usar para superar mal-entendidos, tensões e iniciar novos processos.
Segunda a mídia, o Papa sorrindo lhe indagou: "Cortaste o cabelo?", ao ver pela primeira vez o presidente famoso pelos cabelos desgrenhados e pelas costeletas, enquanto apertavam as mãos,
Milei perguntou: “Posso beijar-te?"
Francisco, de 87 anos, respondeu-lhe de imediato, sem hesitar: “sim, filho, sim! ” Naquele momento Milei se lançou sobre ele, que estava sentado em sua cadeira de rodas, e o abraçou com força, como se fosse um filho pródigo.
Os dois com opiniões bastante divergentes sobre como erradicar a pobreza que assola a Argentina, encontraram-se durante a primeira visita oficial do chefe de estado argentino a Roma para participar da canonização da primeira santa argentina Maria Antonia de Paz y Figueroa, mais conhecida como “Mama Antula”.
Ela era uma leiga consagrada do século 18 que renunciou às riquezas de sua família para se concentrar na caridade e nos exercícios espirituais jesuítas.
A cerimônia ocorreu num momento em que a Argentina enfrenta a sua pior crise econômica em décadas, com uma inflação superior a 200%, com o presidente em dificuldades, após a rejeição parlamentar de importante pacote de suas reformas.
Na sua homilia de domingo, Francisco voltou à questão do cuidado com os pobres e excluídos, dizendo que "o medo, o preconceito e a falsa religiosidade" levam as pessoas à "grande injustiça" de ignorar a situação dos fracos.
O Papa Francisco é um reformador radical que enfrenta inimigos – dentro e fora da Igreja – que se opõem a pelo menos algumas partes da sua agenda.
Massimo Faggioli, especialista no Concílio Vaticano II e autor de vários livros, disse que o papa não é um liberal que exalta o indivíduo como o centro do mundo e que vê um papel mínimo para a Igreja na vida pública.
Em vez disso, ele vê a Igreja como tendo um papel na sociedade e, de fato, “em tudo o que os humanos passam. Esse não é um pensamento liberal; é um pensamento cristão radical”.
Ao receber Milei, o Papa demonstrou espírito cristão e preocupação em ajudar o destino do seu país.
Normalmente, aqueles que se opõem ao Papa Francisco são aqueles que há décadas dizem ser a coisa mais importante para o católico obedecer ao papa. Mas, quando recebem um papa de que não gostam, tornam-se rebeldes.
Milei, por sua vez, convidou Francisco para uma visita à Argentina, onde o pontífice não voltou, desde que se tornou papa, em 2013.
É possível, que seja em 2025.
Nesta segunda feira, Milei terá encontro mais demorado com Francisco.
Como sempre, o Pontífice buscará superar o que divide e buscar o que une, para o bem de todos.
