Postado às 06h57 | 02 Nov 2021
Ney Lopes
Hoje, 2 de novembro, o mundo celebra a morte e a vida, através da tradição do Dia de Finados instituído pela Igreja Católica e as esperanças de melhores condições climáticas de vida na terra, o tema em debate na Conferência do Clima da ONU, em Glasgow, instalada ontem.
Os primeiros registros de orações pelos cristãos falecidos datam do século 1, quando era costume visitar túmulos de mártires.
No ano 732, o papa Gregório III autorizou os padres a realizarem missas em memória dos falecidos. A partir do século 15, o feriado se espalhou pelo mundo e a data permite reverenciar aqueles que já partiram para a Eternidade.
No mundo contemporâneo percebe-se que os homens apreenderam a dominar a natureza, antes de dominarem a si mesmo.
O resultado é que a busca de riquezas com a predação do meio ambiente está pondo em risco a vida no planeta.
A primeira conferência da ONU sobre o clima realizou-se em Berlim, em 1995, este ano será o 26.º encontro e deve durar 13 dias.
Por isso, ontem, 1, o tom do primeiro dia da chamada COP-26 foi marcado por discursos duros dos líderes presentes e com a preocupação pelas ausências do presidente chinês, Xi Jinping (a China é o maior poluidor mundial, responsável por quase um terço das emissões de dióxido de carbono) e do russo, Vladimir Putin.
Segundo a ONU, o que está agora em cima da mesa levará a um aquecimento de 2,7 graus neste século.
Os cientistas defendem que, para alcançar a meta de 1,5 graus, é preciso reduzir as emissões em 45% até 2030 (em relação aos níveis de 2010) e alcançar a neutralidade carbônica até 2050.
A COP 26 tem importância fundamental para o Brasil, em razão do crescimento do nosso agronegócio, responsável por 26% do PIB em 2020, e que investe em tecnologia para se manter entre os maiores exportadores mundiais de alimentos e fibras.
Para o agronegócio, o ponto mais importante da reunião serão as negociações em torno dos mecanismos para construção de um mercado de crédito de carbono, gerados com base na não emissão de gases de efeito estufa à atmosfera, podendo ser comercializados entre países.
Cada crédito equivale a uma tonelada de CO2 que deixou de ser lançada na atmosfera.
No Brasil tais créditos já são regulados pelo Decreto nº 5.882, de 2006.
Setores mais modernos do agro-negócio querem se beneficiar dos pagamentos por serviços ambientais.
O crédito de carbono significa, portanto, a moeda utilizada no mercado de carbono.
Nesse mercado, empresas que possuem um nível de emissão muito alto e poucas opções para a redução podem comprar créditos de carbono para compensar suas emissões.
Assim, aqueles países ou indústrias que não conseguem atingir as metas de reduções de emissões, tornam-se compradores de créditos de carbono.
Esse mercado de carbono já movimenta milhões em dinheiro durante o ano. Em 2007 movimentou cerca de 40 bilhões de euros.
Mesmo com a pandemia da Covid-19 desacelerando a economia mundial, o desmatamento de florestas aumentou.
De acordo com dados da plataforma Global Forest Watch, mais de 4 milhões de hectares foram derrubados em todo o planeta, um aumento de 12% em comparação a 2019.
O Brasil lidera o ranking de países que mais desmatou, com quase um terço das perdas.
Apenas na Amazônia, foram destruídos 1,7 milhão de hectares. Uma extensão três vezes maior do que o segundo colocado na lista, a República Democrática do Congo.
O desmatamento na maior floresta tropical do mundo em 2020 foi 15% maior do que em 2019.
Outro território brasileiro que sofreu com o desmatamento no ano passado foi o Pantanal.
A maior planície alagável do mundo sofreu 16 vezes mais perdas de floresta em comparação a 2019.
Ao todo, 30% do bioma foi devastado pelas queimadas apenas em 2020.
Neste contexto de preocupações globais, em relação ao futuro, o Brasil é ainda uma incerteza, embora no início da COP26 tenha apresentado metas ambiciosas.
Não há porquê deixar de acreditar que, afinal, o presidente Bolsonaro tenha mudado as suas estranhas posições, em relação ao meio ambiente.
O país sofre notório desgaste, em sua imagem global.
Negar isso é "tapar o sol com uma peneira".
Mas, poderá recuperar-se.
Assim seja!