Postado às 05h18 | 04 Set 2023
Ney Lopes
A Itália dá exemplo, de que medidas beneficiando o interesse público não dependem de direita ou esquerda.
Giorgia Meloni, primeira mimistra da Itália de extrema direita, acaba de anunciar a criação de um novo imposto sobre lucros extraordinários de bancos no país.
A alíquota é de 40% sobre os lucros extraordinários dos bancos – a chamada windfall tax no termo técnico usado por economistas.
Os bancos têm apresentado resultados recorde nos últimos trimestres
Meloni é a primeira mulher a ocupar o cargo,
Quando jovem, se juntou à Frente Juvenil, ala juvenil do neofascista, tornando-se depois presidente do ramo estudantil do sucessor do movimento, a Aliança Nacional.
Ela diz que não é fascista.
O governo garante que as receitas geradas pelo novo imposto serão usadas em “cortes de impostos” e auxílio financeiro em hipotecas de cidadãos, que compram o primeiro imóvel.
O Tesouro italiano estima que a arrecadação do novo imposto seja de cerca de 3 bilhões de euros.
O mercado também calcula em torno de 2 a 3 bilhões de euros.
Os bancos italianos (e europeus) têm obtido grandes lucros, em meio ao encarecimento de financiamentos contratados anteriormente e melhoria nas margens.
O Banco Central Europeu, autoridade monetária da União Europeia, define juros unificados para todos os países que usam o euro como moeda.
Esse critério é muito combatido pelos governos com economias em crise.
De junho de 2022 a julho deste ano, a taxa básica de juros da zona do euro saiu de zero para 4.25%.
Não é somente e a Itália, que diante do descontrole da inflação, busca novas receitas e cria impostos como única alternativa possível de evitar o caos.
A Hungria, governada pelo premiê de extrema direita Viktor Orbán, também seguiu o mesmo caminho.
Na Espanha, governada por uma coalizão de esquerda, um imposto sobre lucros extraordinários dos bancos foi instituído em novembro.
A grande dificuldade é que os financiamentos imobiliários foram contraídos, quando os juros estavam perto de zero.
Com a taxa básica subindo e os salários sem acompanhar totalmente a inflação, muitas dívidas se tornaram extremamente caras para os devedores.
Imagine-se a situação do brasileiro, com as limitações no valor do salário mínimo e a estagnação salarial do serviço público há mais de oito anos.
Os aliados de Meloni continuam a defende-la.
Acham que ela representa a mudança política radical de que a Itália precisa, dada sua longa estagnação econômica e uma sociedade liderada por políticos desgastados.
Os exemplos da Itália e Hungria, principalmente, demonstram que não existe o estigma da direita ser contra os pobres e a favor dos ricos.
A desigualdade social está sendo combatida globalmente, independente de posições ideológicas.
A direita, que combatia criação ou aumento de impostos como meio de superar crises econômica, revisa sua posição e coloca em primeiro plano o interesse coletivo.
É bom que a esquerda faça a mesma revisão e deixe de usar seus métodos radicais, que dividem as nações e as pessoas, com prejuízos para todos.