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Análise: "Esquerda avança no Equador e extrema direita na Argentina"

Postado às 05h35 | 21 Ago 2023

Ney Lopes

Enquanto na Argentina, lidera a disputa presidencial Javier Milei, de ultra direita, as urnas do Equador da eleição de ontem, 20, apontam a esquerdista Luisa González como a mais votada até agora (apuração não finalizada).

Entretanto, haverá segundo turno (15 de outubro) e o disputante será e o empresário liberal Daniel Noboa (36 anos), um "outsider" de centro-direita.

Ele foi presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, onde tramitou diversos projetos de lei nas áreas econômica, tributária e de investimentos.

Luisa González, 45 anos, é apoiada pelo Revolu­ción Ciudadana, do ex-Presidente Rafael Corrêa, atualmente vivendo na Bélgica depois de ser condenado.

Corrêa foi o chefe de Estado que mais tempo esteve no cargo (2007–2017).

A disputa eleitoral mais aguardada é a da Argentina, diante da vitória inesperada de Milei, um extremista de direita, que não aparecia nas pesquisas.

A pergunta é: afinal de onde veio Javier Milei?

É filho de uma doméstica e de um taxista.

Tornou-se conhecido como colunista, autor de um programa de rádio e conferencista nas redes sociais.

Na recente eleição primária da Argentina para apontar candidatos à presidente, surpreendeu a todos e  foi o vencedor.

É extrema direita, que embora em polos opostos, significa aproximação com os métodos radicais da extrema esquerda.

Com o cabelo assanhado e costeletas longas, o economista de 52 anos surge como o favorito às eleições presidenciais que serão realizadas em 22 de outubro.

Ele se descreve como um “anarcocapitalista”.

Vídeos o mostram tirando de um quadro e rasgando cartões com os nomes de ministérios, jogando-os para o ar para enfatizar sua promessa de encolher o Estado.

“O Estado não é a solução. É o problema”, diz ele.

Contra o feminismo e o aborto, para pôr fim à inflação propõe trocar o peso pelo dólar e "dinamitar" o Banco Central.

Acabará com os Ministérios da Saúde, da Educação e do Desenvolvimento Social.

Defende o porte livre de armas e a criação de um mercado de órgãos para transplante, além de considerar as alterações climáticas como "uma mentira do socialismo".

Chamou a China, o segundo maior parceiro comercial da Argentina e um de seus principais credores, de “assassina” em razão de seu sistema político repressivo.

É negacionista climático e detesta o Papa Francisco, que diz ser “jesuíta que promove o comunismo”.

Promete o desmantelamento do Estado e libertar o mercado.

Nunca ocupou um cargo executivo e entrou para a política há apenas quatro anos.

Ele difama toda a classe política argentina, classificando-a de ladrões e chama os impostos de um “ato de violência”.

Diz ter poderes de salvar a Pátria, a semelhança de Bolsonaro, que era aclamado como “Messias”.

Coloca-se como “antissistema”, que denomina corrupto de ponta a ponta e se apresenta como alguém que “fala a verdade, doa a quem doer” e como um “homem comum”, ganhando a empatia de setores da sociedade.

Utiliza a sua tonitruência para aproveitar os vazios criados pela crise social e decadência dos partidos tradicionais, em um país com inflação de 100%, taxas de juro a 118% e o aumento da pobreza, que voltou a atingir quase 40% da população, sendo 8% indigentes.

Javier Milei não é um liberal, mas sim um extremista de direita, afastando-se dos princípios da doutrina criada por Adam Smith, Alexis de Tocqueville e Benjamin Constant.

O fundamento do liberalismo é a defesa de valores centrais como liberdade, igualdade, solidariedade e auto respeito.

Mergulhada no caos financeiro, político e social mais grave da sua história, a população argentina irá às urnas eleger o futuro presidente da República e cargos legislativos.

As trevas do atual desespero social da poderão conduzir o país para um futuro de incertezas.

Diante de posições tão extremadas - de direita e de esquerda - assemelham-se os cenários eleitorais do Equador e da Argentina.

Ambos são enigmáticos.

Tudo será possível acontecer.

De um lado, no Equador, a candidata Luisa González chegar ao poder, apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa, hoje exilado na Bélgica e que foi condenado por ter liderado uma rede de corrupção entre 2012 e 2016.

De outro, na Argentina, um candidato como Javier Milei, que se diz “contra tudo e todos”, ganhar a eleição.

 

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