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Análise: "Eleições municipais e a máfia das emendas"

Postado às 06h48 | 11 Out 2024

Ney Lopes

Além de outras atividades na política, passei 24 anos no Congresso Nacional.

Enfrentei seis reeleições de deputado federal.

Jamais vi tanto dinheiro esbanjado numa eleição, quanto este ano.

Não houve eleição, mas sim leilão.

No meu tempo, até em véspera de Natal, tinha que estar em Brasília, enfrentando a máfia do orçamento, para tentar liberar verbas municipais.

Como nunca fui da “máfia” tive verbas por mim incluídas no orçamento desviadas para outros parlamentares do próprio RN, impondo-me perdas de votos.

Um dia darei os nomes completos dos responsáveis pelos “golpes” que sofri de membros da própria bancada

Quem se beneficiava aparecia como parlamentar eficiente.

Eu ficava injustamente como desidioso.

Muito cruel, a lembrança desses fatos.

Este ano de 2024 realizou –se pela primeira vez eleição municipal, com os congressistas no controle das verbas federais.

Cada deputado dispõe de 40/50 milhões (fora extras), dá a quem quer, com a segurança que será paga

Levantamento mostra que em localidades onde as emendas somaram menos que R$ 847,90 por eleitor, 78% dos candidatos conseguiram ser reeleitos.

Quando o patamar das verbas dobra, a taxa de sucesso dos prefeitos passa para 86%, e vai a 92%.

Bituruna (PR) recebeu do deputado Valdir Rossoni (PSDB) R$ 35 milhões em emenda.

Curiosidade: o prefeito é o pai do deputado Valdir Rossoni. De pai para filho!

Diante desses escândalos, todos impunes, não há como acreditar que o Brasil dará certo.

Infelizmente, a máfia do orçamento está pior do que no passado.

 Geisel – o mais cruel dos presidentes militares

O leitor José Barros envia mensagem, corrigindo o texto do artigo publicado neste jornal, em 09.10.24, para esclarecer que em 1974, o senador eleito no RN foi Agenor Maria e não Dinarte Mariz, cuja eleição indireta (biônica) ocorreu em 1978.

A correção procede e o autor pede desculpa pelo equívoco.

O leitor citado prossegue e se opõe a citação no texto, de que em 1974, “o presidente Ernesto Geisel, o mais cruel dos militares que governaram o Brasil, criou a figura do “senador biônico” nomeado pelo governo”.

Acrescenta, que Ernesto Geisel foi responsável pela abertura política lenta e gradual.

Permito-me discordar do leitor José Barros.

A abertura ocorreu por decisão do comando revolucionário e Geisel várias vezes tentou boicotá-la, usando o AI 5 e tomando decisões ditatoriais.

A seguir, contra fatos não há argumentos.

Geisel cassou 11 parlamentares com base no AI 5 e processou dois deputados pela Lei de Segurança Nacional, inclusive o presidente do MDB, Ulysses Guimarães.

Usou o AI 5, fechou o Congresso por duas semanas em 1977, cancelou eleições, criou a Lei Falcão, que impediu os candidatos de falar no rádio e na TV, aumentou o mandato de presidente de 5 para 6 anos, impôs as eleições indiretas.

O governo enfrentou alta da inflação e dívida externa, desemprego e a crise do petróleo.

Além disso, suspendeu direitos fundamentais como o habeas corpus, censurou obras de arte, livros e resultou na prática de tortura.

Foi divulgado memorando secreto da CIA, de 11 de abril de 1974, assinado pelo então diretor da CIA (serviço de inteligência dos EUA) Willian Colby e endereçado ao então secretário de Estado Henry Kissinger, afirmando que o presidente Geisel disse ao chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) à época, João Baptista Figueiredo, que as execuções deveriam continuar.

O jornalista Elio Gaspari em levantamento constatou que no governo Geisel morreram 42 oposicionistas, sendo registradas 1.022 denúncias de tortura. Foram proibidos 47 filmes, 117 peças de teatro e 840 músicas.

A censura prévia continuou vigorando para a imprensa de oposição e para as editoras de livros.

O general Geisel era um crente evangélico, que construiu imagem de conciliador, mas, antes de morrer em 1996, declarou aprovar a tortura em depoimento ao Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas.

Nestas condições, o autor do texto manifestou (mantém) a opinião, de que o General Ernesto Geisel como homem público foi o mais cruel dos presidentes militares que governaram o Brasil.

Afinal, ninguém pode fugir da sua própria história.

 

 

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