Postado às 06h52 | 15 Mai 2023
Ney Lopes
Na eleição de ontem, 14, na Turquia, os resultados de 99% das urnas indicam uma disputa acirrada e as eleições presidenciais devem ir ao segundo turno.
O atual personagem político mais importante do país – Erdogan – na adolescência vendia limonada e bolo nas ruas de Istambul para ganhar um dinheiro extra, antes de se formar em Administração na Universidade de Mármara de Istambul, onde também jogou futebol profissionalmente.
O presidente Erdogan, no poder há 20 anos, tenta se eleger novamente, mas dessa vez enfrenta uma forte oposição.
O seu adversário é Kemal Kilicdaroglu, apoiado por uma ampla oposição, quer reaproximar este Estado-membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar ocidental) do Ocidente e defende maior liberdade democrática.
As eleições decorreram pacificamente durante o dia, com 60 milhões de eleitores presentes em 50 mil assembleias de voto e mais de 190 mil urnas, instaladas em escolas.
Se nenhum dos candidatos conseguir ultrapassar 50% dos votos, realizar-se-á um segundo turno das eleições presidenciais, em 28 de maio.
O governo de Erdogan, conservador e autoritário, minou a independência entre os poderes nos últimos anos e perseguiu opositores.
Embora seja chefe de um país da OTAN, Erdogan tem laços estreitos com o russo Vladimir Putin e se posicionou como mediador na guerra da Rússia na Ucrânia.
Ele ajudou a intermediar um acordo, abrindo um corredor seguro para as exportações de grãos, através do Mar Negro
A Turquia é um país de grande importância geopolítica.
Tem uma posição estratégica na interseção da Europa e da Ásia, abrangendo tanto o Oriente Médio, quanto o mar Negro.
Na esfera militar, o país exerce grande importância, pois é sede de uma base aérea dos Estados Unidos da América e também abriga armas nucleares norte-americanas
Tem o segundo maior exército da NATO, membro fundamental na região e mediador entre os beligerantes em conflito na Ucrânia
É considerada uma nação transcontinental
Istambul foi a capital do Império Romano do Oriente e do Império Otomano.
A República da Turquia era uma democracia parlamentar, desde a sua criação, em 1923.
Erdogan, o atual presidente, conseguiu mudar em 2017, para um sistema presidencialista.
Desde então, o presidente é o chefe de Estado e exerce o poder Executivo.
Ele nomeia e destitui ministros e altos funcionários públicos e preside o gabinete de governo.
O presidente também escolhe os governadores das províncias, e o ministro do Interior, os chefes das subdivisões das províncias.
Na prática, a influência do presidente chega até a administração local dos municípios.
Ele também pode editar decretos e preencher inúmeros cargos no Judiciário, nas finanças e no sistema educacional.
Neste contexto, a disputa presidencial prosseguirá num clima de desconfiança e medo cada vez mais agudo, com tensões entre grupos étnicos, políticos, religiosos e sociais e sob uma incerteza crescente de um país, que escolherá entre dois projetos políticos, totalmente distintos e dificilmente conciliáveis.
O futuro dirá os caminhos a serem seguidos pela Turquia.
Espera-se que esses caminhos sejam a alternância de poder, liberdade de ir e vir, de opinião, de imprensa e respeito às diferenças.