Postado às 06h12 | 24 Set 2020
Bey Lopes
No jargão político norte-americano há a ideia, de que na véspera das eleições presidenciais ocorre sempre revelação, ou acontecimento, que agita ou a muda o curso da campanha.
É a chamada surpresa de outubro. Há quatro anos, houve pelo menos três: a gravação do programa “Access Hollywood”, no qual Donald Trump faz comentários rasteiros sobre as mulheres; um relatório da Casa Branca confirmando a tentativa de Moscou em influenciar as eleições; e o anúncio do diretor do FBI de que iria investigar os e-mails de Hillary Clinton.
Neste ano de 2020, pela morte da juíza do Supremo Tribunal Ruth Bader Ginsburg, Donald Trump irá anunciar no sábado próximo, a sua escolha para o lugar vago no Supremo Tribunal. Seja quem for a escolhida, a balança vai pender mais para o conservadorismo.
Em tal situação, direitos adquiridos há décadas poderão desaparecer. Considerando que o cargo é vitalício e os juízes são jovens, a previsão é que por muitos anos a Suprema Corte fique nas mãos dos conservadores. A escolha resume-se nos nomes de Barbara Lagoa, filha de cubanos refugiados, e a ultraconservadora e religiosa Amy Coney Barrett.
A primeira é trunfo de Trump para usar na Florida, estado decisivo e no qual as sondagens indicam ligeiríssima vantagem para Joe Biden.
A segunda iria cair bem nos círculos religiosos contra a interrupção voluntária da gravidez. Ela fica mais à direita do que os outros juízes nomeados por Trump e bem mais do que John Roberts, o presidente do Supremo nomeado por George W. Bush, que nem sempre decide ao agrado do campo republicano.
Com a nomeação de uma juíza do agrado de Trump, o Supremo terá a composição mais conservadora em 70 anos. Isto significa, por exemplo, que o direito ao aborto pode ser posto em causa. Também fica em perigo o “Obamacare”, a reforma da saúde que permitiu a milhões de cidadãos pobres terem seguro de saúde.
Sem dúvida, os EEUU estão numa encruzilhada na véspera das eleições., em relação ao seu futuro.
O conservadorismo poderá perder nas urnas e ganhar na Suprema Corte, onde permanecerá por muitos anos.