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Análise: "Dificuldades de Putin no governo da Rússia"

Postado às 06h26 | 29 Mai 2023

O empresário Yevgeny Prigozhin: amigo ou inimigo de Putin?

Ney Lopes

A invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, desencadeou uma guerra que mergulhou a Europa na pior crise de segurança, desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A cada dia Putin sofre restrições internas da forma como conduz o conflito.

Ele não ouve a ninguém.

Um dos mais próximos é Yevgeny Prigozhin. Nasceu em Leningrado (hoje São Petersburgo) e saiu da prisão após ter cumprido nove anos por fraude, furto, embriaguez, até à implosão da União Soviética.

É tido como amigo pessoal e confidente do presidente Putin.

O empresário  Yevgeny Prigozhin tem o comando do grupo de mercenários denominado “Wagner”, que atua na guerra em favor da Rússia.

É uma empresa privada de guerra, um exército mercenário, na linha de frente na Ucrânia.

Os mercenários “atuam sem uniforme oficial e existem unidades sérvias, bielorrussas, moldavas.

Prigozhin construiu um império de restaurantes luxuosos durante os anos 90 e adquiriu influência na elite russa, usando recepções com bebidas e comidas sofisticadas

Além dos investimentos nas cadeias de distribuição alimentar e retalho, enriqueceu através de contratos de fornecimento de refeições à administração pública, ao exército ou às escolas em São Petersburgo.

Prigozhin tem se transformado em crítico das ações bélicas da Rússia, manifestando-se contra o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e a falta de organização das Forças Armadas russas mantendo, entretanto, laços próximos a Putin.

Analistas identificam que o regime autocrático de Putin assenta numa tática de “dividir para reinar”.

Nessa estratégia, ele cria estruturas de poder concorrentes como a Guarda Nacional versus o Ministério do Interior; e o Grupo Wagner versus o Exército.

Em tempo de paz, essa instabilidade artificial de freios e contrapesos pode ajudar a estabilizar o sistema.

Em tempos de guerra, contudo, “dividir para reinar” pode ser “autodestrutivo”, com diferentes agências, forças e ministérios sem saber o que fazer, com “medo de mostrarem iniciativa e  achar mais fácil ficarem calados e ignorar as ordens do Kremlin.

Putin promove rivalidades entre os subordinados há muito tempo.

É difícil imaginar que os ataques de Prigozhin ao alto escalão militar sejam possíveis sem a aprovação tácita dele..

Nas suas manifestações contrárias ao Kremlim, o chefe dos mercenários  considera que a Rússia  falhou no objetivo de desmilitarização da Ucrânia.

Se antes do início da operação especial, eles [os ucranianos] tinham 500 tanques, agora têm 5.000.

Se na altura eram capazes de combater 20.000 soldados, agora têm 400.000,

Ultimamente, Prigozhin declarou: “Para ser correto, devo dizer que o segundo melhor exército do mundo é o exército russo, mas os ucranianos têm um dos exércitos mais fortes. Os militares ucranianos conseguem usar com sucesso qualquer sistema de armas, seja soviético ou da NATO ",

Fala-se que Prigozhin prepara-se para fazer parte do sistema político russo. .

Há meses que ele tenta criar uma imagem de líder nacional forte, capaz, brutal, mas justo.

Essa imagem normalmente encaixa-se no sonho que os russos têm sobre um bom líder.

Há um aspecto a considerar: Prigozhin é volúvel.

Ora contra os líderes do Kremlin, ora volta atrás e surge mais contido, submetendo-se à vontade de Putin.

Tem alertado o comando russo que somente os filhos do povo morrem na guerra.

Os herdeiros dos oligarcas e outros elementos da elite russa, não.

É incisivo: "pode acabar como em 1917, numa revolução", referindo-se ao conflito de que resultou o fim da monarquia e a tomada do poder pelos bolcheviques liderados por Vladimir Lenine.

Trata-se de uma referência direta à possibilidade de queda dos atuais líderes russos.

Poder-se-ia até afirmar que a relação entre Putin e Prigozhin confirma o ditado de “quem tem amigos assim, não precisa de inimigos”.

Mas haverá a dúvida  se Prigozhin posiciona-se como agente de Putin, canalizando a “raiva” do chefe de Estado russo contra a liderança militar.

Ou, agirá sozinho?

 

 

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