Postado às 05h54 | 30 Abr 2023
Ney Lopes
O Papa Francisco encerra hoje, 30, a sua viagem a Hungria.
É a primeira, desde que foi internado em março, por causa de bronquite.
Francisco deu o tom da sua visita, logo na chegada a Budapeste.
Diante do primeiro ministro húngaro ultradireitista e autocrata Viktor Orbán,, ele apelou para a recuperação da "alma europeia" frente aos nacionalismos e à Guerra da Ucrânia.
Em seguida interrogou: “Onde estão os esforços criativos de paz? ”,
Destemido e diplomático, o Pontífice disse o que precisava ser dito, diante do primeiro ministro, Viktor Orbán, de posições ambíguas, que pertence à Igreja Reformada (Calvinista).
O chefe de governo húngaro ao contrário de seus vizinhos, evita criticar o presidente russo Putin.
Dessa forma, o líder nacionalista vai contra a solidariedade demonstrada pela União Europeia e Otan à Ucrânia.
Recusou-se a enviar armas para Kiev e mantém laços estreitos com o Kremlin.
Órban tem uma dura política contra a migração.
O país criou cercas de arame farpado para impedir a passagem de migrantes vindos da rota dos Balcãs.
Francisco lamentou as "portas fechadas da indiferença para com aqueles que estão imersos no sofrimento e na pobreza; as portas fechadas ao estrangeiro, ao diferente, ao migrante, ao pobre".
A Hungria distingue-se da UE e OTAN por se recusar a apoiar militarmente a Ucrânia e a cortar relações com a Rússia.
Mesmo assim, Francisco em todas suas aparições públicas manifestou solidariedade à Ucrânia.
Apesar das dores persistentes no joelho, que o obrigam a usar uma cadeira de rodas e carrinho de golfe, o papa, sorridente, pareceu bem, em sua 41ª viagem internacional, desde sua eleição em 2013.
Questionado sobre sua saúde, brincou dizendo que ainda está vivo e que "ervas daninhas teimosas nunca morrem".
O Papa recordou acontecimentos traumáticos da história húngara, como foram os massacres e a deportação de muitas dezenas de milhares de habitantes, incluindo os de origem judaica, durante a II Guerra Mundial, e o esmagamento violento da contestação à política soviética, por parte dos tanques de Moscou em 1956.
Em julho de 2022, auxiliares do primeiro ministro Órban pediram demissão do governo, em protesto pelo discurso por ele proferido na Romênia, no qual assumiu posição nitidamente nazista ("arianos, racialmente puros") ao declarar: “os povos europeus devem ser livres para se misturar uns com os outros, mas que a mistura com não-europeus criava um "mundo mestiço".
"Estamos dispostos a nos misturar uns com os outros, mas não queremos nos tornar mestiços", declarou ele
Orbán é conhecido por ter estabelecido uma autocracia em seu país, governando de maneira cada vez mais centralizada, desde 2010.
Os cientistas políticos definem a Hungria como uma autocracia eleitoral, mas Orbán define seu país como uma democracia liberal.
No Judiciário, por exemplo, Orbán aumentou o número de juízes da Suprema Corte de 11 para 15, nomeando novos juízes aliados.
Além disso, alterou as regras para antecipar a aposentadoria compulsória dos juízes e assim garantir uma maioria de juízes com posições conservadoras.
As medidas de Orbán enfraqueceram o poder judiciário e desequilibraram a harmonia entre os poderes húngaros.
Além disso, a imprensa húngara foi colocada sob controle do governo, e os meios de comunicação de oposição sufocados.
Neste terreno ideologicamente minado, o Papa Francisco saiu-se bem. Não se registrou qualquer incidente.
Surpreendeu a sua segurança, ao dar volta numa cadeira de rodas no meio da multidão.
Foi aplaudido.
Hoje, 30, ao celebrar a missa campal afirmou:
"É triste e doloroso ver portas fechadas: as portas fechadas do nosso egoísmo em relação àqueles que caminham connosco todos os dias, as portas fechadas do nosso individualismo numa sociedade que corre o risco de se atrofiar na solidão".
Sem dúvidas, claro "recado" ao primeiro ministro Viktor Orbán.
Em mais juma viagem apostólica, o Sumo Pontífice semeia a Paz.
Que Deus o ajude!
Sem comentários – Em 2022, o ex-presidente Bolsonaro se encontrou com o primeiro ministro Viktor Orban em visita a Budapeste. Chamou-o de “irmão” e disse haver afinidades políticas e ideológicas entre o Brasil e a Hungria.