Postado às 06h55 | 15 Jul 2021
Ney Lopes
Os últimos protestos populares em Cuba servem para aumentar no Brasil a polarização política entre Lula e Bolsonaro.
Os dois perceberam isso e aproveitam a oportunidade para radicalizarem a disputa presidencial.
Na verdade, é isso que eles desejam.
Até então, Lula evitava falar da sua política externa de amplo diálogo com a ilha e até financiamentos do BNDES para obras em Havana.
Bolsonaro alimenta a “guerra fria” seguida pelos Estados Unidos e países europeus aliados contra o regime cubano.
Os protestos contra o governo cubano ocorreram em meio a registros de falta de medicamentos e de alimentos, atribuídas a bloqueios mantidos pelo presidente Joe Biden.
O embargo econômico começou em 1962, com restrições às importações cubanas.
A causa foi Cuba ter realizado uma onda de nacionalizações que afetou os negócios norte-americanos na ilha em um valor de US$ 1 bilhão, incluindo terras e refinarias de açúcar.
Esse embargo ainda está em vigor, embora nas últimas décadas tenha sido tanto estendido como parcialmente atenuado em diferentes ocasiões.
Durante a presidência de Barack Obama, as relações entre os Estados Unidos e Cuba melhoraram e surgiram medidas para amenizar a situação.
Porém, a partir de 2019 a “política de sanções” e “medidas restritivas” aumentaram, no governo de Donald Trump.
Há informações que o bloqueio americano total não existe e que os EEUU vendem tudo o que Cuba precisa, mas exigem que o pagamento seja em dinheiro.
Até 1990, Cuba era uma economia totalmente subsidiada pela União Soviética.
Quando esses subsídios acabaram, o país sentiu o peso da estatização.
O governo se mantém pela ajuda do petróleo venezuelano e a prioridade do pagamento de “excelentes” salários aos militares, que preservam o poder da cúpula oficial, a exemplo do que faz Maduro.
Ao longo do tempo, historicamente, Lula e o PT sempre evitaram classificar Cuba como “ditadura” e fizeram manifestações de apoio a Fidel Castro.
Diante disso, a realidade é que a posição de Lula reafirmada recentemente faz com que ele se posicione definitivamente a favor da esquerda mais radical, o que vinha tentando evitar, com os acenos que dava ao empresariado e até ao que denominou de “direita civilizada”.
Até agora, a chamada “terceira via” não se manifestou.
Talvez porque, haja simpatia aos EUA, mas seria difícil se posicionar sem condenar o embargo.
Trocando em miúdos, o debate sobre a revolta cubana chegou à sucessão presidencial brasileira e poderá ajudar que, cada vez mais o radicalismo ideológico influa na eleição de 2022.
Nesse caso, Bolsonaro seria o mais beneficiado.
Aguardemos.