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Análise: "Contradições políticas de Ney Lopes"

Postado às 06h56 | 13 Dez 2022

Ney Lopes

Um internauta enviou-me mensagem de crítica a posições que assumi e por ele consideradas contraditórias, durante a vida pública. 

Tudo aconteceu, em razão de ter publicado, em artigo, trechos do discurso que proferi, em 8 de dezembro de 1967, como orador oficial da chamada Turma da Liberdade, da Faculdade de Direito de Natal, de 1967, que completou 55 anos de conclusão do curso.

Crítica - Na alocução em nome dos concluintes, critiquei a Revolução de 1964 pela edição de atos de exceção, que pisoteavam a Constituição.  

Em período de exceção, às vésperas da edição do AI 5, a Turma decidiu enfrentar o “veto” das forças revolucionárias e convidar o cassado e ex-presidente Juscelino Kubitschek para Patrono.

David - Lembrei, que o arbítrio e a prepotência promoviam a decadência da democracia no Brasil. Mas como David, no episódio bíblico, conduziremos o alforje de ‘pastores da liberdade’ com a certeza de que a força dos gigantes não haverá de prevalecer” conclui no discurso.

Leitor - O leitor que me enviou mensagem entendeu, que o fato de anos depois ter sido eleito deputado federal pela ARENA e PFL, caracterizou incoerência política, comparado com o discurso da Turma da Liberdade.

Passemos aos fatos.

Deus me deu a vocação política e cultivei essa tendência, desde os bancos escolares nos movimentos estudantis.

Sem ter tradição política era quase impossível ser candidato sem legenda. 

A estrutura dos partidos “pertencia” às oligarquias locais (ainda pertence).

Abriu-se uma janela, quando o deputado Ulysses Guimarães fundou o MDB, em oposição ao regime de 1964.

Fui um dos fundadores no RN.

Disputei a minha primeira eleição, em 1966.

Dizia-se que o MDB era tão pequeno que “cabia num fusca”.

Tive expressiva votação, mas não foi atingido o quociente eleitoral. 

A linguagem que usei na campanha eleitoral de 66 é a mesma que me acompanhou em todos os mandatos e cargos que exerci: a defesa intransigente da democracia.

Falta de opção - O RN foi um dos poucos estados no Brasil onde após 1966 não se estruturou partido de oposição.

Apenas, grupos dispersos.

A ARENA, do governo revolucionário, passou ao comando dos dois líderes estaduais: Dinarte Mariz e Aluízio Alves.

Ambos apoiaram os militares no poder.

Nesse período desfiliei-me do MDB e fiquei sem partido.

Com a cassação de Aluízio Alves, em 1969, o MDB passou ao comando do seu grupo político, porém sem perder as ligações revolucionárias, as quais se  revelaram fortes e decisivas durante "aliança" no governo Tarcísio Maia,  com o objetivo de afastar Cortez Pereira e seu grupo da vida pública.

Cortez - Amigo do Professor Cortez Pereira, eleito governador do estado, aceitei convite para ser o seu chefe da Casa Civil, em 1971.

Nenhum governo em nossa história foi montado com tanto rigor ético e de renovação de quadros como o de Cortez.

Entusiasmado com as ideias renovadoras de Cortez, que era da ARENA, candidatei-me a deputado federal e ganhei a eleição (1976).

O primeiro projeto que apresentei foi a criação do crédito educativo no Brasil. 

Cortez - Cabe destacar a figura humana e o espírito público de Cortez Pereira. Para chegar ao governo era inscrito naturalmente na ARENA.

Porém, ele jamais teve o comando poklítico do partido, que continuou nas mãos dos seus oponentes, inclusive para cassá-lo.

A sua obsessão era o desenvolvimento do RN e deixou marcas do seu talento na administração que realizou.

AI 5 - Para evitar o crescimento político inevitável de Cortez e seu grupo, as lideranças oligárquicas locais, com amizades na cúpula revolucionária, superaram até divergências políticas e pessoais entre elas (famílias Alves, Maia e Rosado) e exigiram tacitamente a aplicação do AI 5 no Estado contra o próprio Cortez e seus aliados, mesmo não existindo inquéritos instaurados.

Era o temor do surgimento de um grupo novo na política estadual, cujo único compromisso seria com a democracia..

Explicação - Em razão do “fechamento partidário”, que até hoje prevalece na política do RN, não teria como exercer a minha vocação política, senão através da tolerância, que significa "suportar", ter condescendência, perante a realidade que não se quer ou que não se pode impedir. 

Tive que optar pela ARENA, partido do meu amigo Cortez.

O outro partido era propriedade fechada da familia Alves.

Exemplo –Por todas essas razões e circunstâncias  transigi, sem jamais fazer concessões que ferissem a ética.

Sempre fui na política um libreral social e admirador da Doutrina Social da Igreja.

A tolerância é uma atitude fundamental, que não conduz a negar as próprias crenças e convicções. Ao contrário, é forma de preservá-los.

Defesa - Já se disse que julgar o outro é não enxergar a verdade de cada um.

Todos sabemos que nenhum barco é suficiente para atravessar o rio da vida.

As situações mudam e com eles os barcos que nos conduzem, sem que isso signifique negativa dos valores e sentimentos que defendemos.

Maturidade – Agradeço ao internauta a indagação feita. Foi uma forma de esclarecimento.  

Hoje, na maturidade, não me arrependo de nada.

Sigo o conselho de Sócrates: “O segredo da mudança é não focar toda sua energia em lutar com o passado, mas em construir o futuro”.

Tenho certeza que ajudei modestamente a construir uma pequena parte do RN e do Brasil.

É a sensação do cumprimento do dever.

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