Postado às 04h58 | 01 Set 2023
Ney Lopes
Por mais que o governo justifique, não “pegou bem” esse embrulho do Brasil com a Argentina para garantir uma linha de crédito de US$ 600 milhões no financiamento de exportações ao país vizinho.
Não se pode esquecer os “calotes” acumulados por empréstimos semelhantes feitos no passado.
Segundo o próprio BNDES, estão atrasados pagamentos da Venezuela (US$ 681 milhões), de Moçambique (US$ 122 milhões) e de Cuba (US$ 226 milhões), em um valor total de US$ 1,03 bilhão acumulado até setembro de 2022. Outros US$ 573 milhões estão por vencer.
Nesses casos, os empréstimos foram pagos pelo Fundo de Garantias à exportação, que é custeado pelo Tesouro Nacional.
Mesmo que se diga que é uma linha de crédito para financiar exportações brasileiras, o risco se mantém.
Esse tipo de financiamento à exportação de bens e serviços brasileiros de infraestrutura já existiu e transformou-se em fracasso, principalmente por conta de acordos com países como a Venezuela.
A decisão se agrava, quando vemos a Argentina às vésperas de uma eleição presidencial e os constantes acenos de Lula ao atual presidente Fernández e ao seu candidato Massa.
Sabe-se, que a maior probabilidade de sucesso é do candidato de direita Javier Gerardo Milei, economista, político, professor, escritor e deputado argentino, líder da coalizão política “La Libertad Avanza”.
Milei publicamente já rejeitou relações com líderes de esquerda. Entre eles, Lula.
A falta de diálogo entre os presidentes no futuro poderá criar situações embaraçosas para o credor, que é o Brasil.
O país com acentuadas limitações financeiras, não dispõe de recursos próprios para correr esses riscos desnecessários.
Além do mais, a atual situação argentina é complexa demais para ser resolvida apenas com os acenos do presidente Lula, que tem o único objetivo de tornar-se um líder regional.
Breve análise demonstra, que além de barrar a inflação em absoluto descontrole, um dos maiores desafios a longo prazo da Argentina está em renegociar a dívida com o FMI, no valor de US$ 45 bilhões, sem comprometer o crescimento interno.
Uma seca histórica dificulta ainda mais a situação, levando à menor produção de soja em 20 anos.
O ponto inquestionável é que sendo o BNDES banco do governo brasileiro, não se pode esquecer o déficit atual das nossas contas públicas, consequentemente poupança negativa.
Note-se, que o BNDES comprará títulos do Tesouro para custear os financiamentos externos.
Isso significa deixar de usar esse dinheiro para financiar o investimento de uma firma brasileira, em território brasileiro, ou financiar investimentos públicos em infraestrutura.
Na verdade, parece tratar-se muito mais de acordos políticos entre grupos políticos no poder, que se apoiam mutuamente, (Lula e Fernández), do que operações comerciais de apoio a exportadores brasileiros de serviços.
O Brasil já pagou "preço alto" por usar o banco para financiar obras em países vizinhos, sem os devidos parâmetros e planejamento.
Obviamente a Argentina não oferecerá "garantias fortes" na atual conjuntura.
O país passa por grave crise financeira, com inflação superior a 95% ao ano.
Por todas essas razões e mesmo existindo o sentimento de solidariedade com o país vizinho, não se pode apoiar essa operação de crédito, considerando o esforço sobre-humano que é feito para estabilizar as contas nacionais.
A nossa economia não suporta novos solavancos, numa hora em que o esforço de todos é pela recuperação das perdas da pandemia.