Postado às 10h00 | 30 Out 2020
Ney Lopes
Durante muitos anos o Chile foi tido como a “Taiwan” da América do Sul. Alardeava-se a implantação no país da revolução econômica iniciada com Pinochet, quando se consagrou a teoria de Milton Friedam, da Escola de Chicago. Um dos auxiliares do governo à época foi o nosso atual “tzar” Paulo Guedes.
A tese era estimular o lucro financeiro como prioritário e as consequências sociais seriam atendidas, na medida em que as empresas atingissem maior índice de lucratividade e pagassem menos impostos. Por outro lado, a redução do Estado ao menor possível era a bandeira hasteada. Passaram-se os anos e deu tudo errado.
Hoje o Chile está mergulhado em seríssima crise, não apenas econômica, mas sobretudo social. Ficou claro que o desenvolvimento não pode visar apenas a economia, fortalecer o setor privado e enfraquecer o Estado. Após um plebiscito a maioria esmagadora da população resolveu pedir uma nova Constituição, novo modelo social e econômico para o país e esquecer a ditatura de Pinochet.
Um dos desafios será lidar com as demandas da população, por mais direitos sociais. Mas terá que ser tentado. Aliás, isso ocorrerá não apenas no Chile, mas em todos os países, sobretudo aqueles (como o Brasil) em processo de desenvolvimento. O próprio sistema de governo será redefinido no Chile.
Há partidários do presidencialismo, o semi presidencialismo e o parlamentarismo. Um fato curioso é que a Constituição do Chile já teve 53 emendas, porém em nenhuma oportunidade as questões sociais tiveram prioridade, como na educação, saúde e a própria segurança social.
Toda mudança era para abrir a economia e reduzir o Estado. Deu no que deu! Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.
O plebiscito de domingo congregou o maior número de eleitores na história do Chile.
É sinal que virão mudanças para a pós pandemia.
Sem dúvida, o Brasil sofrerá influencias para também ajustar as suas regras legais, a fim não cair na armadilha de que a economia resolve tudo.
Está provado que não resolve. Ao contrário aproxima do caos, como aconteceu no Chile.