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Análise: "Caem “esquerda” e “direita”: “centro” fortalece"

Postado às 17h54 | 08 Jul 2024

Ney Lopes

O último final de semana foi de surpresas na França, Irã e na política europeia. Antes, no Reino Unido.

Na França, a direita, que parecia ter esmagado a esquerda no primeiro turno, foi derrotada.

De nada valeram os esforços de Marine Le Pen para levar a extrema direita ao poder.

O bloco esquerdista Nouveau Front Populaire, formado às pressas, conquistou a maioria das cadeiras parlamentares no segundo turno.

Entretanto, não alcançou a maioria absoluta e não tem um candidato definido para primeiro-ministro.

No Reino Unidos, o líder trabalhista Keir Starmer aproximou seu partido de posições mais de centro após a derrota trabalhista nas eleições de 2019 de seu antecessor Jeremy Corbyn, de linha mais esquerdista.

Este ano, Starmer fez uma campanha por uma "mudança" menos radical e ganhou a eleição.

No Irã, a vitória surpreendente de Masoud Pezeshkian, um relativamente moderado (centro), na eleição presidencial tem o potencial de mudar o formato do perigoso confronto do Irã com Israel e seu principal apoiador, os Estados Unidos.

O comparecimento subiu para 50 por cento. Pezeshkian é um cirurgião cardíaco de 69 anos e era uma figura política quase desconhecida.

O Sr. Pezeshkian, o único reformista autorizado a entrar na disputa, triunfou sobre o linha-dura Saeed Jalili com 53,7 por cento dos votos em segundo turno

Em um discurso de vitória proferido no sábado em Teerã, o Sr. Pezeshkian disse que “buscaria paz, tranquilidade e cooperação duradouras na região, bem como diálogo e interação construtiva com o mundo”.

Enquanto isto, a França fechou o seu período eleitoral.

A vitoriosa Nouveau Front Populaire é formada por socialistas, verdes, comunistas e a França Insubmissa, ou Insubmissa, um partido de extrema esquerda liderado durante anos por Jean-Luc Mélenchon.

O resultado eleitoral francês  traz um dado altamente positivo: fortalece o “Centro” político.

De agora por diante, tudo depende do apoio da aliança centrista “Ensemble” do presidente Emmanuel Macron e o bloco  da esquerda  para formar uma "frente republicana".

Como avaliam os analistas, a França está totalmente dividida.

Entretanto, a opção pelo “centro” confirma que o país votou em favor de mudanças profundas.

A vitoriosa Nova Frente Popular fez campanha com um discurso que aumentaria o salário mínimo mensal da França, reduziria a idade legal de aposentadoria de 64 para 60, reintroduziria um imposto sobre a riqueza e congelaria o preço da energia e do gás.

Em vez de cortar a imigração, como a direita prometeu, a aliança disse que tornaria o processo de asilo mais generoso e tranquilo.

A aliança apoia a luta da Ucrânia pela liberdade contra a Rússia e propõe que o presidente Vladimir V. Putin “responda por seus crimes perante a justiça internacional”.

O presidente Macou escapou de ficar no “limbo político”.

Inicialmente, ele apostou em ser uma figura unificadora contra os extremos.

Ou seja, ressuscitar sozinho o “centro político”.

O resultado final altera seus planos, mas ele teve um desempenho melhor do que o esperado no final e sobreviveu.

Agora, o Sr. Macron parece ter a opção de   tentar construir uma ampla coalizão, que possa se estender da esquerda até o que resta dos conservadores gaullistas moderados.

Ele permanecerá como presidente até o fim do seu mandato em 2027.

A aliança em negociação, caso se consolide, fortalecerá a democracia.

Não se justifica essa polarização entre “esquerda e direita”, criando inclusive comportamentos patológicos, com pessoas intoxicadas por informações falsas gerando tumulto, usando palavras de baixo calão, querendo a todo custo impor as suas ideias.

A radicalização gerou uma psicose coletiva, em que valores políticos são transformados em agressões a própria sociedade.

Há, ainda, a possibilidade de uma coabitação, na qual a Nouveau Front Populaire comandaria o governo, assuntos domésticos e definiria orçamento, enquanto Macro permaneceria chefe das forças amados, e definiria a política externa,

Já houve três coabitações na França, mas nenhuma envolveu partidos com visões tão opostas.

Agora, o que falta é um nome, que tenha o perfil de consenso, necessário para liderar um novo governo

 

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