Postado às 04h37 | 10 Mar 2020
Valor
A economia brasileira está em situação pior do que em 2008, quando a crise financeira global provocou um terremoto nos mercados internacionais e derrubou a atividade global. Naquela época, o país tinha superávit primário, e não déficit, a dívida pública era bem menor, o PIB crescia a um ritmo expressivo e o Brasil tinha acabado de se tornar grau de investimento. Havia, com isso, muito mais margem de manobra para reagir a um cenário externo adverso.
Ao mesmo tempo, o problema no quadro internacional hoje é bem menos grave do que a crise de 2008, pelo menos até o momento. A turbulência que se agravou com a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, levou o PIB americano, por exemplo, a encolher 2,5% e a taxa de desemprego dos EUA a superar 10%.
Hoje, o que se espera é uma desaceleração da atividade global no primeiro semestre devido ao efeito da epidemia de coronavírus, com recuperação relativamente rápida na segunda metade do ano. As projeções mais pessimistas apontam para um crescimento dos EUA um pouco inferior a 1,5% em 2020. A China, porém, tem atualmente um peso maior na economia global, e deve ser mais afetada desta vez. A expectativa, contudo, é que o país asiático se recupere com mais força já no segundo semestre.
De qualquer modo, o Brasil hoje tem espaço menor para responder à crise externa. A situação fiscal é delicada ainda que a aprovação da reforma da Previdência e a queda expressiva dos juros tenha melhorado a dinâmica para a dívida pública. Em 2008, o endividamento bruto estava na casa de 55% do PIB, mais de 20 pontos percentuais do PIB abaixo dos atuais 76% do PIB.
Outro número bem diferente é o do resultado primário do setor público, que mostra a diferença entre receitas e despesas, exceto gastos com juros. Entre agosto e outubro de 2008, o superávit primário acumulado em 12 meses oscilava entre 3,75% e 4% do PIB.
Em 2008, a economia mostrava um crescimento muito mais forte — nos 12 meses até setembro, por exemplo, o PIB acumulava expansão de 6,5%. Num cenário de forte expansão, o Comitê de Política Monetária (Copom) promoveu um ciclo de alta dos juros ao longo daquele ano, levando a Selic de 11,25% em março para 13,75% ao ano em setembro de 2008.
Atualmente, a taxa básica se encontra no nível mais baixo da história. Novas quedas parecem possíveis, mas os cortes mais acentuados ficaram para trás, uma vez os juros já caíram 10 pontos percentuais desde outubro de 2016, para 4,25%.
Na semana passada, o IBGE divulgou a taxa de crescimento de 2019, de 1,1%, um pouco abaixo do 1,3% registrado em em 2017 e 2018. Para este ano, as projeções têm sido reduzido nas últimas semanas, refletindo a fraqueza da atividade doméstica na virada do ano e o impacto da epidemia de coronavírus sobre a economia global. Boa parte das estimativa aponta para um avanço do PIB na casa de 1,5% para 2020.
Outra diferença é que, em abril de 2008, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) conferiu ao Brasil o grau de investimento, o selo conferido a países com baixo risco de crédito. A piora das contas públicas e o baixo dinamismo da economia levaram o Brasil a perder o grau de investimento em 2015.