Postado às 06h06 | 18 Jul 2022
Ney Lopes
Hoje, 18, por mais improvável que possa parecer, o presidente Bolsonaro ousadamente promete, através de telefonema já confirmado, sugerir ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, a solução para acabar a guerra com a Rússia.
Bolsonaro afirma que Zelensky pediu essa conversa e que o diálogo deve ser acompanhado apenas pelo ministro das Relações Exteriores, Carlos França, e um intérprete.
Em entrevista à CNN, Bolsonaro deu a entender que o caminho para o final do conflito será a rendição da Ucrânia.
Citou como exemplo a guerra da Argentina com o Reino Unido em 1982, que aconteceu depois que os argentinos invadiram as ilhas, que ficam dentro de seu mar territorial, mas são território britânico.
A ditadura militar argentina mandou soldados como forma de se manter no poder, tentou atiçar o sentimento nacionalista, mas não obteve sucesso.
Em pouco mais de dois meses, os argentinos, sem o mesmo potencial bélico e treinamento dos britânicos, tiveram que aceitar a derrota.
No caso ucraniano, as razões do confronto bélico tiveram início na expansão da Otan pelo Leste Europeu, a possibilidade de adesão da Ucrânia à aliança militar, a contestação ao direito da Ucrânia à soberania independente da Rússia e o desejo de Vladimir Putin de restabelecer a zona de influência da União Soviética.
Observe-se que a dissolução da União Soviética ocorreu em 26 de dezembro de 1991.
A declaração do Soviete Supremo reconheceu a independência das antigas repúblicas soviéticas e criou a Comunidade de Estados Independente.
No caso específico da Ucrânia, o raciocínio do déspota russo é o mesmo que ele usou para justificar a guerra com a Geórgia, independência do Kosovo e tomada da Crimeia.
Para ele, não é uma invasão, e sim uma proteção aos russos que lá estão.
Atualmente, do ponto de vista econômico, a guerra de russos e ucranianos atinge a dinâmica de muitos setores do comércio mundial.
Ambos países exportam uma grande parte do milho e trigo que produzem (54%), isso significa que a base para a produção de pão, macarrão, massas, biscoitos, entre outros alimentos, vem encarecendo.
Neste contexto há expectativa da conversa telefônica de Bolsonaro com Zelensky.
Caso o presidente brasileiro sugira a rendição dos ucranianos, estará apoiando as críticas que o seu opositor ex-presidente Lula fez, em entrevista à revista Time, ao presidente Zelensky, acusando-o de não ter dialogado com a Rússia e transformar o conflito em espetáculo.
Percebe-se, pelo andar da carruagem, que tanto Bolsonaro, quanto Lula, demonstram viés de apoio à Rússia.
Daí a indagação: Bolsonaro terminará apoiando a tese de Lula ao falar com Zelensky?
Incrível, que isso possa acontecer
Mas é a realidade.