Postado às 05h36 | 14 Jun 2023
Berlusconi era amigo íntimo de Putin.
Ney Lopes
Será sepultado hoje em Milão, o ex-primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi, 86, que deixa patrimônio de US$ 6,8 bilhões (R$ 33 bilhões).
Silvio Berlusconi surfou na onda da antipolítica e se tornou o premier mais longevo da Itália.
Era proprietário da maior rede de TV italiana.
Ficou ao todo nove anos e um mês no cargo de primeiro-ministro, sendo o político que mais tempo comandou a Itália após a queda do regime fascista com a Segunda Guerra Mundial (1939-45).
“Sou o número um”, repetia ele.
Elegeu-se pela primeira vez em 1994, surfando na Operação Mãos Limpas, que a exemplo da Lava Jato no Brasil, deixou o sistema político na lona, com acusações generalizadas de corrupção.
Berlusconi aproveitou o cenário de terra arrasada e ganhou a eleição.
Ele apregoava que viera para a política a fim de separar-se de forças corrompidas e que destruíam a Itália.
Elegeu-se numa coalizão formada por partidos de direita.
Manteve-se no poder por oito meses, sendo derrubado por suspeitas de corrupção levantadas pela Operação Mãos Limpas contra ele e seu irmão.
Ele representava uma linhagem liberal que predominava no mundo no final do século XX, cujas referências eram o americano Ronald Reagan e a britânica Margaret Thatcher.
A política do Estado mínimo encontrou nele, crítico feroz do “estatismo”, um grande defensor.
A sua segunda passagem pelo poder ocorreu por quatro anos e 11 meses, entre 2001 e 2006.
Voltou a ser primeiro ministro, entre 2008 e 2011, quando seu governo durou três anos e seis meses.
Nesses períodos construiu boas relações no plano internacional, aproximando-se de nomes como George W. Bush, Vladimir Putin e Muammar al-Gaddafi.
Cantado em músicas, abordado em filmes e peças de teatro, Berlusconi entrou para o imaginário nacional e sua figura tornou-se internacional.
O populismo e a antipolítica eram as suas caracteristicas políticas..
Primeiro de três irmãos, Silvio Berlusconi nasceu em Milão em 29 de setembro de 1936, numa família da pequena burguesia do norte italiano.
Seu pai, Luigi, era funcionário de um banco milanês que ficaria conhecido por guardar (e reciclar) o dinheiro de mafiosos.
A mãe, Rosa, dedicou-se ao lar após ser secretária da Pirelli e teria um papel fundamental em sua vida, sendo a sua principal referência.
Ele foi cantor e animador de um cruzeiro (também cantou num cabaré em Paris), guia turístico e vendeu aspirador de pó em domicílio.
Em 1986, ele comprou o Milan, clube no qual foi presidente até 2017, quando o vendeu para um empresário chinês.
Em 31 anos, o Milan conquistou diversos títulos italianos, europeus (Cinco Champions League, o principal torneio da Europa) e mundial.
Ao longo dos anos, muito se especulou sobre a origem dos recursos que deram o pontapé em sua vida empresarial.
A acusação era que se tratasse de dinheiro da máfia.
Alvo de mais de 60 processos ao longo da vida, de crimes que vão de corrupção, prostituição de menores à associação com a máfia, ele conseguiu se desvencilhar de quase todos, sendo condenado por fraude fiscal (como Al Capone).
Berlusconi tinha doença incontrolável por mulheres.
Escândalos sexuais e envolvimento com menores marcaram a sua vida.
Viveu rodeado de mulheres.
A sua saúde vinha dando sinais de fragilidade desde 2016, quando precisou realizar delicada cirurgia no coração para substituir uma válvula na aorta.
Com seu desaparecimento, ressalta o cientista político Giovanni Orsina, vai-se embora um pedaço da história do final do século XX.
— Ele simbolizou aquele tempo.
PS. Na política internacional sempre repercutiu a amizade íntima de Berlusconi com o líder russo Wladimir Putin.
Em dos seus aniversários, o premier italiano referiu-se ao soviético dizendo: “No meu aniversário, ele me enviou 20 garrafas de vodka e uma carta muito doce. Enviei a ele garrafas de Lambrusco (vinho espumante italiano) e uma carta igualmente doce".
No áudio, também é possível escutar Berlusconi dizendo que “restabeleceu relações com o presidente Putin”, além de chamá-lo do “primeiro de seus cinco verdadeiros amigos”.