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Análise: "Barril de pólvora chamado Sri Lanka"

Postado às 06h23 | 15 Jul 2022

População invadiu Palácio presidencial

Ney Lopes

Um barril de pólvora com pavio aceso.

Este é o retrato hoje, 15,  do Sri Lanka (Ceilão), país que se tornou independente do Reino Unido em 1948.

Três grupos étnicos (cingaleses, tâmeis e muçulmanos) compõem 99% da população de 22 milhões.

Os primeiros colonizadores foram os portugueses: Dom Lourenço de Almeida chegou à ilha em 1505.

Atualmente, o caos é retratado pela população nas ruas em protesto, foguetões, quebra quebra, invasão do palácio do governo e da residência oficial do presidente da república, pessoas dormindo nos sofás, uso de salas, banheiros privados e manifestantes nadando na piscina presidencial.

A casa do primeiro ministro foi incendiada.   

O presidente Gotabaya Rajapaksa fugiu do país em um jato militar e se encontra em Singapura.

O presidente é o chefe de estado, governo e militar, mas compartilha muitas responsabilidades executivas com o primeiro-ministro, que lidera o partido com maioria no Parlamento.

A família Rajapaksa dominou a política do Sri Lanka por duas décadas e, com forte apoio da maioria budista cingalesa, ele se tornou presidente em 2019.

Por que esse país do Oceano Índico, habitado principalmente por três grupos étnicos diferentes, chegou a tal ponto de instabilidade?

Cerca de quatro meses a capital Colombo é tomada por protestos nas ruas.

O Sri Lanka está atualmente em uma grave crise financeira e não tem acesso a moedas estrangeiras como o dólar ou o euro para pagar suas importações — o que inclui alimentos, remédios e combustível.

Na tentativa de conter a crise de combustíveis foi decretada a proibição da venda de gasolina e diesel a consumidores privados, tornando-se o primeiro país a implementar essa medida desde a década de 1970.

As escolas fecharam e 22 milhões de pessoas passaram a trabalhar em casa.

O turismo, uma das fontes de renda, está paralisado, pelo fato do medo de viajar para o país após uma série de ataques a bomba a igrejas que ocorreram em 2019.

A situação atual é confusa, incerta e uma anarquia total, sendo necessário consenso, consulta, compromisso para a reconstrução do país.

Analistas defendem que o Sri Lanka precisa de um consenso entre diferentes linhas partidárias e de um Governo interino multipartidário para traçar uma  estratégia a curto-médio prazo.

Um bom sinal é que as forças militares tentam evitar ser parte no conflito. Não desejam envolvimento na crise política.

O exército do Sri Lanka é majoritariamente cingalês e os apoiantes dos protestos são na maioria cingaleses, e os grupos minoritários mantiveram-se em segundo plano.

Por isso, não seria fácil os líderes militares usarem força brutal contra os grupos majoritários.

O esforço da comunidade internacional é no sentido da moderação para contar a violência, garantir uma transição política pacífica, com respeito aos direitos humanos, à vida e à propriedade.

 

 

 

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