Postado às 06h15 | 30 Nov 2020
Ney Lopes
Em entrevista, o prefeito de Salvador, ACM Neto, soltou uma frase emblemática sobre os resultados das eleições municipais. Disse ele: “A tal da nova política ficou velha muito rápido".
Seria um ataque à Bolsonaro?
Acho que não.
Trata-se de ponto de vista sobre o comportamento do eleitor nesta eleição, cujo cenário foi completamente diferente de 2018.
Na eleição presidencial, o país estava mergulhado no caos político e econômico. Tal circunstancia favoreceu Bolsonaro pregar a tal “nova política”, sob a forma de convocação popular para derrubar os desmandos do PT. Na disputa presidencial, os candidatos mais ao centro (quer fosse centro direita, ou centro esquerda) não se afirmaram, a começar por Alckmin, que se esvaziou no seu próprio estado de São Paulo.
Aí veio o arrojo e a audácia de Bolsonaro. Como não tinha o que perder, nem compromisso com partido, consolidou nos bastidores o apoio dos militares, cuja credibilidade era evidente no país, segundo as pesquisas.
O eleitor buscava uma “boia” para salvar-se da inundação causada pela corrupção.
Bolsonaro usou o cognome de “capitão”, ou seja, aquele que vinha para colocar os pontos nos “ís”. Sem estratégia definida e sem programa objetivo de governo, Bolsonaro apoiou-se no “novo” e condenou todos os partidos e os políticos com mais experiência.
O cidadão de boa fé, que desejava desalojar o PT do poder, não teve outra opção.
Ao chegar no governo, Bolsonaro não acenou à conciliação nacional, a alternativa sensata que teria.
Ao contrário, adotou, através do grupo de ultradireita que lhe assessorava, posição de radicalismo permanente contra as instituições. Não se pode negar, que na escolha de “alguns” ministros ele acertou, como também aparentemente estancou a corrupção.
Na pandemia, assumiu posição esquisita, ao negar a ciência. Todos esses fatores levaram ao desgaste do “novo”, pregado por Bolsonaro, embora não se possa dizer que ele foi derrotado nas urnas.
Apenas, foi acesa luz de alerta.
Se Bolsonaro irá rever posições e acreditar no diálogo democrático, ninguém sabe.
O que se sabe é que se ele não mudar, a reeleição ficará muito difícil.