Postado às 06h12 | 11 Set 2022
Ney Lopes
O risco é grande de receber até ofensas quem ousa analisar com isenção e imparcialidade episódios políticos nestes tempos tumultuados do processo eleitoral brasileiro.
Os bolsonaristas e lulistas se assemelham na intolerância, embora de um lado e de outro existam pessoas equilibradas e de bom senso.
Na condição de um “eterno repórter” com alguma experiência por ter vivido como parlamentar 24 anos no Congresso Nacional, mantenho o “hobby” de análises e opiniões diárias na Internet, para leitura de meia dúzia de internautas.
Aprendi que jornalismo é não fugir do fato no dia a dia.
Por isso, analisemos as últimas pesquisas, após o controvertido 7 de setembro.
Reafirmo, que valorizo pesquisas, dependendo da sua origem.
São instrumentos científicos de aferir tendências da opinião pública.
Podem errar, é claro.
Todavia, mostram o retrato 3x4 do momento eleitoral fotografado.
As mais recentes pesquisas da eleição presidencial foram do Datafolha e o Ipesp/Abrapel, dois institutos de bom conceito.
Em ambas sondagens há um dado fundamental: nos últimos noventa dias, o presidente Bolsonaro retirou 8 pontos percentuais da vantagem que Lula tinha nas intenções de voto, o que representa cerca de 12 milhões de votos.
É uma tendência real.
Para os analistas, não cabe mais ponderar se haverá ainda tempo, ou não de alteração do quadro.
O fato é que existe o ritmo de crescimento de Bolsonaro.
Pode estancar, mas também pode disparar.
O objetivo básico do presidente é ir ao segundo turno, o que parecia inatingível.
Hoje, perfeitamente possível.
O segundo turno será uma nova eleição, com duração de 24 dias.
Tudo pode acontecer.
Há dois fatores a considerar: os índices de rejeição dos candidatos favoritos e o voto útil, que geralmente aparece na última semana, antes do primeiro turno.
No item rejeição, a média é de 51% dos entrevistados não votando no presidente de jeito nenhum e 39% não votando em Lula de jeito nenhum.
Em relação a pesquisas anteriores, Bolsonaro caiu 1 ponto na rejeição e Lula marcou a mesma pontuação.
O governo do presidente Bolsonaro tem aprovação de 28% e reprovação de 45%.
Percebem-se dois movimentos nas campanhas: Bolsonaro, para recuperar terreno perdido, propaga inegáveis sucessos na economia e volta a sua estratégia de 2018, de acusações reiteradas a Lula no campo da corrupção.
Os petistas entendem que a melhora na economia não chegou aos mais pobres e que esse eleitorado seguirá com Lula.
Porém, o ex-presidente dá “guinada” ao centro para conter crescimento de Bolsonaro.
Lula busca voto dos indecisos e dos que hoje optam por Tebet ou Ciro
O presidente, ao contrário, não aposta em buscar o centro ou a esquerda.
O seu estilo inflexível preocupa o “staff” de campanha, que defende um discurso mais ameno, destinado à classe média e aos setores menos radicais, inclusive propagando conquistas e vitórias alcançadas pelo governo em vários setores da administração.
Nesse particular, Bolsonaro é considerado imprevisível. Só ouve ele próprio.
A essa altura, o segundo turno tido como certo.
Previsão impossível sobre o que acontecerá.
Porém, uma coisa é certa: Lula terá que atrair bolsonaristas, o centro e a esquerda que não votou nele, para consolidar uma vitória.
Já o presidente terá que conquistar votos no centro, esquerda e radicais opositores, que votaram em Ciro e Tebet.
Os grupos, que atualmente apoiam Bolsonaro e Lula, não garantem vitória no segundo turno.
Na renhida disputa pelo poder caberá ao eleitor a decisão final e soberana,
Na expressão da escritora mineira Luna di Primo, o eleitor assemelha-se a uma bola de pingue-pongue entre direita e esquerda.