Postado às 05h37 | 25 Jul 2021
Ney Lopes
Uma das expressões mais usadas na política brasileira é “centrão”, como definição de partidos aglutinados por interesses pontuais, sem ideologia, ou compromissos éticos.
É o caso de indagar: afinal, o que vem a ser direita, esquerda, centro e "centrão"?
A ciência política mostra que a divisão entre esquerda e direita teve origem na Revolução Francesa.
Na época da Assembleia Nacional Constituinte (1789-91), os grupos conservadores sentavam no lado direito, enquanto os mais radicais, ocupavam o lado esquerdo do plenário.
O centro seriam aqueles com postura moderada, diante de questões que dividiam o país.
Partidos de centro buscam equilíbrio entre o Estado e o mercado, na economia.
Distinguem o que seja intervenção econômica, da regulação.
As extremas esquerda e direita se unem e desqualificam o centro, acusando de indefinidos e “mornos”.
A prova disso foi a recente "união" de Lula e Bolsonaro, juntos, fazendo declarações contrárias ao surgimento da "terceira via" na disputa presidencial.
Em todas as democracias existem direita, esquerda e centro.
O termo “centrão” na política brasileira foi criado na Constituinte de 1988, quando grupo de parlamentares procurava impor vetos a propostas mais avançadas e progressistas.
Identificou-se na mídia, que “centrão” significava vender “apoio” aos governantes, em troca de vantagens.
Entretanto, curioso é que no cenário político brasileiro, após a redemocratização, “todos os partidos”, tidos como direita ou esquerda”, buscaram (e buscam) alianças com o chamado “centrão”.
O maior exemplo foi Lula em 2022, que escolheu o empresário José de Alencar do PL para aliado e o indicou como seu vice.
Agora, todo o dia ouve-se que os petistas defendem um nome de centro para companheiro de chapa do ex-presidente.
Aliás, com a defesa dessa estratégia, o PT demonstra coerência política.
Os governos petistas nunca foram de esquerda,
Todos eles envolveram alianças "amplas", que iam da direita até a centro esquerda.
Henrique Meireles, símbolo do capitalismo internacional por presidir à época um banco norte-americano, integrou o governo Lula como presidente do Banco Central.
Sob o aspecto de redistribuição de renda, os governos Lula e Dilma subsidiaram o capital muito mais do que a política social do país. É só conferir as cifras financeiras.
No outro polo da política nacional contemporânea, o presidente Bolsonaro é acusado de unir-se ao “centrão”, incorporarando ao seu governo. líderes do PP, PL, PTB e DEM..
Faz o que Lula e Dilma fizeram e ele condenou, chamando de "velha política";
Ciro Gomes do PDT, herdeiro do brizolismo, anuncia que deseja aproximar-se do centro para disputar a presidência pela quarta vez..
Essas posturas políticas exigem que definitivamente haja uma distinção clara do que seja “centro” e “centrão”.
Até para melhor explicar os comportamentos adotados pela direita e a esquerda brasileira.
O “centro político” é posição legítima de moderação e equilíbrio e não traz consigo o sentido pejorativo, que muitos radicais lhe atribuem..
"Centrão" é outra coisa.
Essa denominação, como já citado, teve no passado o endereço certo de apontar práticas desonestas usadas durante a Constituinte de 88, pela direita e a esquerda.
Em nome da verdade dos fatos, “centrão” não existe apenas nos partidos de direita, mas há múltiplos exemplos de comportamentos antiéticos também em legendas de esquerda, tais como, PT, PSB, PDT e outros.
A Lava Jato mostrou esse retrato sem retoques.
É recomendável, portanto, “separar o joio do trigo” para evitar contradições, incoerências e injustiças.
Em relação aos atuais partidos brasileiros seria o caso de lembrar a expressão bíblica: "aquele que não tiver pecado, atire a primeira pedra".