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Análise: a entrevista de Lula

Postado às 06h19 | 26 Ago 2022

Ney Lopes

Ontem, 25, em sabatina no Jornal Nacional, o ex-presidente Lula superou a audiência de Ciro Gomes, mas não a de Bolsonaro (atingiu a média de 31.4 pontos em SP).

A empresa de Consultoria e Pesquisa “Quaest” mediu 48% de menções positivas a Lula, contra 52% de menções negativas, considerando todo o período da entrevista.

Bolsonaro alcançou 35% favoráveis e Ciro 54%.

A campanha de Bolsonaro avaliou que Lula saiu-se bem no vídeo e derrapou ao falar sobre agronegócio e a lista tríplice para nomeação do procurador geral da República.

O momento mais significativo da entrevista foi a intenção de parceria com Geraldo Alckmin.

Lula deu “recado” aos indecisos (sobretudo a classe média) com o objetivo de liquidar a disputa já no primeiro turno, declarando  que fará governo a quatro mãos, ao lado de um conservador tradicional, que se transformou em seu amigo de infância.

Repete o que fez com o empresário José Alencar.

Passou a mensagem do diálogo com divergentes e que adversários não são inimigos.

Surpreendeu ao criticar à China e Cuba pela falta de democracia e a certos erros econômicos cometidos por Dilma Rousseff.

“Pisou na bola” ao mencionar que não deve “se meter” no que acontece na Venezuela, em nome da autodeterminação dos povos.

Mais uma vez deixou de criticar a ditadura venezuelana, cujo líder Nicolás Maduro, já se referiu a ele como “um pai”.

Na política externa, embora em campos opostos, observam-se semelhanças de comportamentos entre Lula e Bolsonaro.

O presidente aparenta  ao exterior, que estimula  tentativas de golpe no país, através de pronunciamentos intempestivos e agressivos, sobretudo desestabilizando os poderes constitucionais.

O governo americano chegou a pronunciar-se, no caso das urnas eletrônicas.

Por outro lado, abre muitas áreas externas de atrito, negando o multilateralismo, tradição da nossa diplomacia.

Já o petista, que se diz democrático, não deixa claro que repele regimes autoritários.

Quando o PT exaltou a vitória nada limpa do ditador Daniel Ortega na recente farsa eleitoral da Nicarágua, a repercussão foi tão negativa que a cúpula do partido resolveu tirar a nota do ar, alegando que o texto “não foi submetido à direção partidária”.

Mesmo depois desse episódio, Lula voltou a demonstrar simpatia pelas ditaduras .

Em entrevista ao jornal El País, em uma tacada só, defendeu as ditaduras cubana, venezuelana e nicaraguense,

Fez indagações impróprias, como: “por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder, e Daniel Ortega não? Por que Margaret Thatcher pode ficar 12 anos no poder, e Chávez não? Por que Felipe González pode ficar 14 anos no poder?”,

O ex-presidente omitiu que não há o menor indício de que Merkel, Thatcher e González tenham recorrido a alterações constitucionais casuístas, à repressão violenta de opositores e à fraude eleitoral pura e simples para se manterem no poder

Em outra ocasião, quando a polícia cubana reprimiu com violência manifestações populares, ele foi enfático na defesa: “Essas coisas não acontecem só em Cuba, mas no mundo inteiro. A polícia bate em muita gente, é violenta”.

Lula novamente omitiu o fato de que Cuba nem sequer tolera manifestações de oposição, reage com violência mesmo quando o ato é pacífico, prende dissidentes simplesmente por criticar o governo e chega ao ponto de derrubar as conexões de internet para que imagens dos protestos não sejam divulgadas.

Na verdade, duas posições - de Bolsonaro e Lula -, que põem em risco a imagem global  da democracia brasileira.

Na sequencia da entrevista,  o apresentador William Bonner comentou que, apesar de Lula não “dever nada à Justiça” após decisões do STF (ele ainda responde 9 processos penais), “houve corrupção na Petrobras”, cuja prova foram pagamentos a executivos da empresa, a políticos de partidos como o PT, MDB e PP.

Em seguida, perguntou como ele evitaria que isso acontecesse novamente.

O candidato disse: “você não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram (os crimes) ”.

Afirmou ser defensor de denúncias à corrupção e do livre agir das instituições de controle e que indicará pessoas técnicas e ilibadas para os postos públicos.

Aproveitou para agradecer a oportunidade da entrevista, afirmando que durante cinco anos foi massacrado.

Mencionou as medidas do seu governo de combate à corrupção, como a criação do “Portal da Transparência, das leis de Acesso à Informação, contra o crime organizado, contra a lavagem de dinheiro e a AGU contra a corrupção.

Sobre o “mensalão”, descoberto em 2005, declarou: “Se alguém comete erro ou delito, investiga-se, apura, julga, condena ou absolve, e está resolvido o problema. Foi isso que fizemos”.

Acerca do governo Bolsonaro referiu-se poucas vezes.

A forma mais contundente ocorreu em relação ao Orçamento secreto, ao dizer que o presidente “não manda" e é subordinado a Artur Lira.

Chamou Bolsonaro de bobo da corte.

Na mensagem final repetiu o que defende Ciro Gomes, de ajudar as famílias endividadas, um dos lemas do pedetista.

Em conclusão, igualmente a Bolsonaro e Ciro, o ex-presidente saiu-se bem na entrevista.

O jogo começa e a plateia está atenta!

 

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