Postado às 05h44 | 15 Nov 2022
Ney Lopes
A mulher do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) Rosângela da Silva, a Janja, concedeu no último domingo, a sua primeira entrevista à imprensa, na Rede Globo de Televisão.
O anuncio da entrevista alvoroçou o mundo político, que desejava conhecer melhor aquela que já mostrou a intenção de ser ativa durante o próximo governo.
O clima de nervosismo sobre as repercussões das declarações da primeira dama envolveu todo o “staff” presidencial, ao ponto de logo após o término, a entrevistada receber uma ligação de Lula e brincou com as jornalistas. "Ele estava mais nervoso do que eu".
O que se pode antecipar é que a senhora Rosângela da Silva se saiu bem.
No Brasil, não se pode negar que em tantos anos de República e com raras exceções, a maioria das primeiras damas viveu à sombra da projeção política do marido, reforçando os traços patriarcais da sociedade.
Entretanto, existiram exceções.
A expressão “primeira dama”, que hoje é usada para designar as esposas dos governantes, tornou-se popular apenas no governo do presidente Rutherford B. Hayes (1877-1881), nos Estados Unidos.
Lucy Webb Hayes, considerada a mais carismática primeira dama americana, foi a primeira a ter cursado uma faculdade, interessava-se por política e converteu o marido à causa abolicionista.
Algumas primeiras-damas tiveram influência direta no governo de seus maridos.
Edith Wilson chegou a despachar com os ministros da Casa Branca, após o presidente Woodrow Wilson sofrer um derrame, em 1919.
Já Eleanor Roosevelt, primeira-dama do governo Franklin Roosevelt representava seu marido em viagens e escrevia polêmicos artigos em defesa dos afro-americanos e dos pobres.
Em 2019, Michelle Bolsonaro, esposa do atual presidente, tomou a frente e, pela primeira vez em nossa história republicana, uma primeira-dama discursou antes do marido durante a posse presidencial.
Ela que faz parte do Ministério de Surdos e Mudos da Igreja Batista Atitude, na qual atuou como intérprete de Libras nos cultos, quebrou protocolo discursando em Língua Brasileira de Sinais.
Entre as primeiras-damas brasileiras, somente três concluíram o ensino superior: Ruth Cardoso, Marcela Temer e Rosane Collor — e apenas Ruth, esposa de Fernando Henrique Cardoso, exerceu a profissão de socióloga, aliás semelhante a graduação de Rosângela da Silva, a Janja.
A primeira-dama mais emblemática da história do país foi Maria Thereza Goulart pela juventude, beleza, carisma e elegância.
Aos 26 anos de idade, Maria Thereza suportou todo o clima de violência política contra o seu marido, João Goulart, esteve nos derradeiros comícios e foi sua grande companheira no exílio.
Na República não houve uma única primeira-dama negra.
Sempre se manteve o estereótipo branco, das classes média ou alta.
A exceção foi Marisa, mulher de Lula, que, embora branca, vinha de uma família de trabalhadores italianos.
E Michelle Bolsonaro, nascida em uma família pobre da periferia de Brasília.
É cedo para analisar o comportamento da senhora Rosângela da Silva como primeira dama.
Mas, na entrevista à GLOBO revelou preparo intelectual e bom raciocínio.
Socióloga, ela estudou na UFPR (Universidade Federal do Paraná) entre 1990 e 1994 e especializou-se em História, pela UFPR, e em Gestão Social e Desenvolvimento Sustentável, pela Universidade Positivo.
No convívio partidário, mostra-se politizada, articulada e não invasiva.
Resta aguardar os desafios futuros, os quais exigirão da primeira dama um papel de firme apoio às ações do governo e da própria família.