Postado às 05h56 | 27 Abr 2022
A vitória na eleição da França não foi da esquerda, nem direita, posições ideológicas opostas, que merecem respeito.
O país optou entre o nacionalismo extremista de Le Pen e o globalismo democrático de Macron, em prol da preservação da União Europeia.
Ele é o primeiro presidente reeleito em 20 anos e um personagem político singular. A sua trajetória de vida relembra a Comédia Humana, de Balzac, que engloba oitenta e oito livros e ainda hoje oferece um retrato político e social da França.
Quando Macron surgiu na vida pública francesa, em 2014, não tinha apoio de nenhuma liderança. Fundou um partido para candidatar-se.
Originário de classe média baixa, os opositores zombaram dele e lançaram vídeo com uma música intitulada “Eu ando só”, apelidando-o de “andante solitário”.
Não se intimidou e ganhou a eleição.
Macron se auto intitula “liberal social” e dialoga com todas as correntes políticas.
Na economia, acredita em afrouxar as restrições nos negócios.
Facilitou o empreendedorismo e atraiu muitos eleitores da direita. Nunca deixou de preservar o papel do estado como ente central, cuja função é indispensável para capitalizar as forças vivas da sociedade, agregando, estimulando e gerenciando os esforços do mercado livre e de outros agentes (empresas, voluntários, associações de toda ordem), em prol do bem público.
Como liberal tem opiniões sobre questões sociais - direitos dos homossexuais e igualdade de gênero-, que atraíram o apoio da esquerda.
Na presidência, embora com acentuados desgastes, Macron obteve excelente desempenho no combate a pandemia, queda regular do desemprego, a 7,4% em março, e uma retomada do crescimento econômico em 2021 (+7%).
A taxa de vacinação é alta, os hospitais não ficaram sobrecarregados e as consequências econômicas da pandemia foram absorvidas por meio de ajuda do governo. A recuperação econômica na França se mostrou melhor do que a de seus vizinhos.
A guerra na Ucrânia trouxe incerteza política e aumentos de preços.
A principal consequência da eleição francesa é a demonstração de que o mundo está num refluxo em relação aos extremismos, mesmo com os sinais de fragilidade da democracia.
A eleição de Biden e a vitória de Macron mostram que a Europa e a América ainda estão dispostos a lutarem pelos princípios democráticos.
Entretanto, não há garantia de que esse termômetro prevaleça no Brasil, atualmente com a disputa presidencial polarizada entre extremos.
Não se pode negar a vinculação histórica entre Brasil e França.
As ideias liberais, que levaram o povo francês à Revolução de 1789, repercutiram no Brasil na Revolução Praieira de Pernambuco e, antes disso, na frustrada Inconfidência Mineira.
O Estado de Direito Liberal, adotado nas Constituições brasileiras, institucionalizou-se a semelhança dos revolucionários franceses, no fim do século XVIII, constituindo o primeiro regime jurídico-político da nossa sociedade.
Queira Deus que essas semelhanças garantam a estabilidade do nosso processo eleitoral de outubro próximo.
Quanto ao futuro, Macron é uma incógnita. Enfrentará desafios.
A governabilidade na França nos próximos cinco anos dependerá das eleições legislativas de junho. Macron precisa repetir a sua vitória. O mais difícil é a divisão interna.
A coesão social está abalada e não poderá prosperar a ideia de que existirão dois países, um de costas para o outro.
Diante da ausência de Merkel, o presidente francês passou a ser a grande liderança na União Europeia.
A Ucrânia destruída e desolada espera as suas ações em prol do fim do conflito.
Enquanto isso, aproxima-se o dia 9 de maio, o grande feriado da Rússia, evocativo da capitulação nazista. Putin quer anunciar vitória na guerra, durante desfile militar na Praça vermelha.
Mas, o líder russo não está tão forte quanto parece. A Governadora do Banco Central confirmou no Parlamento recessão de 9%; inflação de 22%. Sinal de que as sanções ao país produzem efeitos devastadores.
O grande sonho de Macron é a soberania europeia. Por tal razão, colocou a bandeira da União Europeia sob o Arco do Triunfo, no dia de sua vitória.
Esse será o melhor caminho para o diálogo, em busca da Paz.