Postado às 06h05 | 24 Abr 2022
Ney Lopes
Hoje, 24, será decidida a eleição na França por 49 milhões de eleitores.
O resultado das urnas terá o potencial de afetar a vida de outros 400 milhões de pessoas nos países da União Europeia e ainda de desequilibrar o xadrez geopolítico do continente.
A candidata Marine Le Pen não é direitista, o que seria normal e caberia respeitar as suas posições no diálogo democrático.
Ela é “extremista” e defende teses que colocariam em risco a livre circulação de pessoas e mercadorias na União Europeia.,
Le Pen é, inclusive, antiga aliada do déspota russo Putin.
Em 2014, reconheceu a anexação da Crimeia por Moscou e obteve para o seu partido um empréstimo de cerca de € 9 milhões em um banco russo.
Enquanto isso, Macron provou ser um gerente de crises.
A França é um dos países europeus que melhor se restabelece da pandemia, com uma queda regular do desemprego, a 7,4% em março, e uma retomada do crescimento econômico em 2021 (+7%).
A taxa de vacinação na França é alta, os hospitais não ficaram sobrecarregados e as consequências econômicas da pandemia foram absorvidas por meio de programas de ajuda do governo.
A recuperação econômica na França se mostrou melhor do que a de seus vizinhos.
Entretanto, a guerra na Ucrânia trouxe incerteza política e aumentos de preços.
A maioria dos eleitores franceses é movida pelo medo da explosão do custo de vida.
Reforma das aposentadorias, queda de impostos, desindustrialização e relação com a União Europeia são alguns dossiês em que Emmanuel Macron e Marine Le Pen apresentam projetos opostos para o país.
Nas questões migratórias, religiosas, económicas, sociais, ela continua a ser a herdeira do radicalismo pai.
Veja-se, por exemplo, que o plano de Le Pen é proibir todas as mulheres muçulmanas de usar o hijab (conjunto de vestimentas preconizado pela doutrina islâmica.).
Macron alerta que esta medida poderia provocar uma “guerra civil” nos subúrbios franceses.
Esses extremismos e populismo de Le Pen mostram um país amplamente dividido e um sedimento de nacionalismo reacionário, xenofobia e tendências antidemocráticas.
Neste contexto econômico em crise, os dois candidatos lançam a cartada das subvenções.
Macron ofereceu ajuda financeira direta para os menos favorecidos, congelou os preços da energia e bancou uma redução de até €0,18 do preço do litro dos combustíveis.
A sua opositora garante que irá mais longe, se for eleita, aumentando em 10% o salário de quem ganha até três salários mínimos e isentando de encargos sociais empresas e, parcialmente, funcionários.
Marine Le Pen também almeja baixar dos atuais 20% para 5,5% a TVA, um imposto sobre valor agregado semelhante ao ICMS brasileiro.
Os dois candidatos também se opõem sobre a relação com a União Europeia.
Macron é profundamente europeu,
Le Pen sempre foi uma crítica do bloco, do qual prometia separação até a última eleição, em 2017.
Macron qualificou a eleição de hoje como um “referendo contra ou a favor da Europa” e “contra ou a favor de uma República laica, una e indivisível”.
Macron saiu-se muito bem no último debate da quarta feira.
A tendência da esquerda é apoiá-lo.
O líder Jean-Luc Mélenchon, que ficou em terceiro na primeira volta com cerca de 20% dos votos, apelou ao seu eleitorado para que “não dê um único voto” a Marine Le Pen, mas continuou a não apoiar diretamente Macron.
Apesar da incerteza dos eleitores de esquerda, as sondagens continuam a dar a vitória a Macron, com 55,5% das intenções de votos.
É provável que realmente Le Pen perca a eleição para preservar a unidade europeia, em momento tão delicado quanto o atual.