Postado às 06h39 | 13 Jan 2022
Ney Lopes
Infelizmente, do ponto de vista político e econômico, o ano de 2022, decisivo para o futuro coletivo, não começa bem.
Deus queira esteja errado.
De um lado, o presidente Bolsonaro, que fizera uma trégua no uso de linguagem agressiva e despropositada contra os poderes constitucionais, volta ao seu estilo tradicional e agride membros do STF.
Os sinais são de que “dobrou-se” aos seus seguidores fanáticos e enraivecidos, que têm a obsessão patólogica em destruir os poderes constituídos, salvo o executivo comandado pelo "mito salvador".
A prova está em fala do foragido Allan dos Santos, reproduzindo vídeo com críticas antigas do presidente, aconselhando-o a voltar à luta para combater o que denomina 'corja' do STF.
Alan responde dois inquéritos por ameaças aos ministros, disseminação de conteúdo falso e financiamento de atos antidemocráticos.
Na entrevista ontem, 12, à Gazeta Brasil, Bolsonaro acusou o ministro do STF Alexandre de Moraes de agir fora da Constituição.
Disse que Barroso “entende de terrorismo” e vinculou os dois magistrados à pré-campanha do ex-presidente Lula (PT) ao Palácio do Planalto.
Simultaneamente, o presidente volta atacar o petista seu concorrente, dizendo que sua eleição é o criminoso voltar à cena do crime.
Fica claro que a estratégia governista é o confronto e a radicalização, sendo nesse ponto idêntica ao estilo do PT e seus aliados.
Ambos reativam a “rede do ódio” para polarizar a opinião pública.
Enquanto isso, a pandemia recrudesce e a economia brasileira mostra risco de colapso.
A inflação no país é a 3ª maior em ranking com as principais economias do mundo.
A alta de preços foi mais severa no Brasil em 2021, atrás apenas da Argentina e da Turquia; valorização atípica do dólar e das commodities colaboraram para o resultado.
O IPCA ficou em dois dígitos em 2021, com alta de 10,06%, o maior aumento desde 2015 (10,67%).
Embora a inflação seja fenômeno mundial, a conjuntura brasileira exige mais rigor nas providencias a serem adotadas.
Aliás, a inflação alta em países ricos é outro fator que desfavorece o Brasil, porque esses países sobem juros.
E, se os juros se tornam mais atrativos em países considerados seguros para o investidor colocar seu dinheiro, a tendência é fugir de países considerados mais problemáticos para os investimentos, como o Brasil.
Uma verdade incontestável é que crescimento de inflação não combina com crise política, sobretudo envolvendo atritos entre os poderes constitucionais.
Como o investidor acreditará em governo, que combate e desvaloriza o poder judiciário?
Mesmo assim, Bolsonaro insiste no estilo beligerante, a moda Trump.
O fato gera apreensões, sobretudo por estarmos em ano eleitoral.
Apelar à Bolsonaro não adiantará.
Está demonstrado que ele não muda.
Será sempre o mesmo em matéria de temperamento e estilo político.
A esperança é que a classe política, não comprometida nesse “bate boca” de insultos, tente convergir a campanha para debates de propostas consistentes, acerca da reconstrução nacional, após a pandemia.
Será uma oportunidade até da formação de um “grupo de partidos”, mesmo antagônicos, decididos a radicalizarem com a busca de soluções para o futuro do Brasil, afastando o linguajar chulo dos ataques pessoais.
Somente assim, o país se salvará do risco iminente de sucumbir, no abismo político e economico que o ameaça.