Postado às 07h02 | 14 Jul 2021
Globo
Após 31 anos no Supremo Tribunal Federal, o ministro Marco Aurélio Mello se despede da Corte em razão da sua aposentadoria. A Coluna antecipa aqui dois trechos da entrevista do magistrado à revista "Poder", que estará nas bancas a partir de sábado, dia 17.
Uma das perguntas feitas ao ministro foi a respeito de como o Judiciário poderá explicar a população que o ex-presidente Lula ficou 580 dias preso de forma ilegal. Marco Aurélio foi direto.
"Essas idas e vindas, tal dito pelo não dito, são péssimas. E acabou o Supremo ressuscitando politicamente o ex-presidente da República Luiz Inácio da Silva. Eu fui voto vencido, mas a maioria decidiu, paciência. Agora aguardemos 2022 para ver se ele vai se apresentar candidato à Presidência ou não. Ele cumpriu dois mandatos diretamente e cumpriu um mandato e meio indiretamente quando esteve na cadeira maior do país a presidente Dilma, período em que ele, evidentemente, estava, mesmo que não formalmente, como grande conselheiro dela. Eu penso que o ex-presidente já prestou serviços à pátria e que é hora de nós termos a abertura de oportunidades para outros candidatos.
Quanto a possibilidade de impeachment de Jair Bolsonaro, o agora ex-ministro contemporizou:
"O presidente foi eleito com 57,7 milhões de votos, foi escolhido pela maioria dos eleitores. Tem um diploma que assegura um mandato de quatro anos. Essa história de apoiar impeachment de presidentes da República é muito ruim. Tem que ser reservado o afastamento a situações excepcionalíssimas. As instituições estão funcionando, o presidente tem um perfil de atuar, precisamos admitir esse perfil. Contudo, é claro que, se demonstrado um desvio de conduta, que haja a glosa do desvio de conduta no campo do próprio Legislativo, com um processo de impedimento, ou no Supremo com um processo crime por crime comum. Vamos aguardar, e não presumir o excepcional. E verificar o lado bom da governança nos dias de hoje e que o presidente da República seja feliz nesse ano e meio que tem pela frente.