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A educação após a pandemia

Postado às 04h26 | 09 Set 2020

Estado

Education at Glance, o respeitado levantamento sobre o nível da educação no mundo inteiro que é promovido há muitos anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), acaba de ser divulgado com números recentes sobre o impacto da covid-19 no setor e sobre as dificuldades que ele enfrentará com o retorno às aulas.

No caso do Brasil, o estudo revela que os mais afetados foram os alunos da rede pública de ensino básico, onde estudam 80% dos jovens desse ciclo educacional. Por isso, diz o secretário-geral da entidade, Angel Gurría, a pandemia aprofundará ainda mais não apenas a desigualdade socioeconômica dentro do País, como, igualmente, a desigualdade do Brasil em relação às economias mais avançadas.

Segundo a OCDE, um dos problemas que o Brasil terá de enfrentar é o alto número de estudantes por classe na rede pública. Entre 46 nações avaliadas, o País tem o 10.º maior número de alunos por classe no chamado Ensino Fundamental 1, que conta com cinco séries. E tem o 6.º maior número de estudantes por turma no Ensino Fundamental 2, que conta com quatro séries. No Fundamental 1, as escolas públicas brasileiras têm, em média, 23 alunos por classe – quase 10% acima da média das escolas públicas dos países avaliados pela OCDE. No Fundamental 2, o tamanho da turma brasileira é, em média, de 27 estudantes – cerca de 17% a mais. 

Como a retomada das aulas presenciais exigirá maior distância entre as carteiras e mais disponibilidade de espaço, por razões de segurança, Estados e municípios terão de investir em infraestrutura, na criação de novos turnos e na contratação de mais professores, uma vez que as classes não poderão continuar tão cheias. No entanto, por causa da gravidade da situação fiscal brasileira e da queda abrupta do nível de atividade econômica, há o risco de redução de investimentos públicos em educação – adverte a OCDE.

Conjugado com esse risco, o problema da adaptação das escolas públicas a uma nova realidade tende a se agravar ainda mais, uma vez que, por causa da crise econômica, vários pais e mães perderam o emprego ou tiveram a renda reduzida, o que os está levando a transferir os filhos de escolas privadas para escolas públicas, aumentando com isso a demanda por matrículas. Em julho, essa migração provocou um aumento de 73% só na rede municipal de educação infantil de São Paulo.

O levantamento da OCDE também mostrou que o número de dias de escolas fechadas prejudicou mais os estudantes brasileiros do que os alunos dos demais países. No final de junho, as escolas brasileiras estavam havia 16 semanas sem aulas presenciais – cerca de 2 semanas a mais do que a média das escolas dos países avaliados. No início de setembro, só oito dos países avaliados ainda permaneciam com as aulas suspensas – entre eles, o Brasil. Prudentemente, a OCDE recomenda que esses números sejam lidos com cautela, seja porque em alguns países as autoridades municipais têm autonomia sobre seus sistemas educacionais, seja porque, no Hemisfério Norte, julho e agosto são meses de férias.

O estudo lembra ainda os problemas enfrentados pelas escolas públicas brasileiras para oferecer um sistema eficiente de ensino remoto e as dificuldades dos estudantes para acompanhar aulas virtuais. Com relação às consequências sociais dessas dificuldades, a OCDE lembra a dificuldade que esses alunos terão no futuro. Aqueles com menor nível de escolaridade são os mais vulneráveis, uma vez que são os mais improváveis de se beneficiar do trabalho remoto, diz o estudo. 

Em sua conclusão, o estudo da OCDE lembra que o futuro da educação mundial, visto à luz de hoje, é incerto. Segundo ele, se por um lado a pandemia revelou o quão interdependentes são as economias atualmente, por outro a capacidade de reagir de modo efetivo à covid-19 dependerá da determinação e da competência de cada governo. Infelizmente, pelo que o governo Bolsonaro demonstrou até agora, faltam-lhe esses dois requisitos, o que torna uma incógnita o futuro da educação brasileira.

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