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Trump acerta ao demitir Bolton, o assessor de segurança nacional

Postado às 04h20 | 11 Set 2019

Guga Chacra

A decisão de Donald Trump de demitir o seu assessor de segurança nacional, John Bolton, é excelente ainda mais se levarmos em consideração o motivo da demissão. O presidente americano escreveu no Twitter que discordava de muitos de seus conselhos. Como sabemos, Bolton, conhecido por ser o arquiteto da fracassada Guerra do Iraque, defendia intervenções militares em IrãVenezuela, Síria e Coreia do Norte, além de ser contra a diplomacia.

Esta postura do presidente dos EUA pode indicar que o líder americano realmente queira adotar uma postura mais diplomática em política externa a partir de agora também em relação ao Irã, seguindo a linha que já adota na sua aproximação com a ditadura da Coreia do Norte e mesmo com o Talibã, embora esta última tenha sido frustrada momentaneamente

Ao contrário de George W. Bush, Trump nunca se posicionou como entusiasta de ações militares. Criticou, ao longo de sua campanha, as guerras no Iraque, no Afeganistão e na Líbia. Durante seu mandato, chegou a fazer bombardeios pontuais contra Bashar al-Assad pelo suposto uso de armas químicas e também contra o Estado Islâmico — mas jamais atuou para uma mudança de regime na Síria, como fizeram Bush e Barack Obama em relação Saddam Hussein e Muamar Kadafi, respectivamente.

No caso do Talibã, Trump até mesmo queria levá-los a Camp David para acertar um acordo para a retirada das forças americanas. Agora o presidente dos EUA está focado em se reunir com o presidente Hassan Rouhani, do Irã. Bolton era contra. Se o iraniano topar, ambos tendem a se encontrar na ONU para dar início a um diálogo. A maior objeção está em Teerã e não em Washington. A linha-dura iraniana é contra.

Os falcões que sussurraram nos ouvidos de Trump

Bolton, que era o mais belicista integrante do governo de Bush filho, chegou a defender uma série de vezes bombardeios à Coreia do Norte e ao Irã para a mudança do regime. Atuou por anos como lobista de uma organização opositora iraniana chamada Mujahadeen-e-Khalq, conhecida pela sigla MEK. Este grupo, com praticamente nenhuma popularidade no Irã, adota uma ideologia que mistura jihadismo e marxismo e teve apoio de Saddam no passado. Com a queda do ditador iraquiano, membros mais endinheirados da organização passaram a contratar serviços de lobby de Bolton e também de Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York e advogado de Trump. Conseguiram seu objetivo de sair da lista de entidades terroristas do Departamento de Estado, em 2012, e, até ontem, tinham um aliado como assessor de Segurança Nacional.

O presidente dos Estados Unidos, além de se irritar com as articulações de Bolton para criar conflitos armados, também demonstrou insatisfação com o seu assessor pelo fracasso, até agora, na iniciativa para derrubar Nicolás Maduro na Venezuela.  Ele vendeu a ideia para Trump de que seria simples remover o ditador venezuelano.

Sem Bolton, a probabilidade de os EUA se envolverem em uma aventura militar diminuiu. Trump errou ao nomear John Bolton, mas a sua demissão corrigiu o erro e deve ser celebrada. O risco de uma guerra envolvendo americanos e iranianos diminui sem este radical dentro da Casa Branca.

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