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Repórter que sempre fui: "a filha de Tobias Barreto (VI)"

Postado às 14h03 | 22 Fev 2024

Ney Lopes

Deixei a ORDEM em 1966 e fui para Recife trabalhar com Calazans Fernandes, na elaboração de cadernos especiais da FOLHA DE SÃO PAULO (correspondente vários anos no RN), além de repórter especial do Jornal do Commércio e depois Diário de Pernambuco (também anos correspondente no RN).

O meu primeiro desafio como repórter no Recife foi acordar de madrugada e na companhia do famoso fotógrafo Clodomir Leite, depois laureado pela Revista Veja, andei nas hospedarias de Olinda, Jaboatão, São Lourenço e o cais Santa Rita.

Escrevi uma série de reportagem sobre o abastecimento do “Grande Recife”.

Com detalhes e minúcias, os textos tiveram títulos exóticos: “Recife come o que não faz e curte fome dos outros” (“a inchação da fome”); “No tráfico do boi em pé ciganagem aperta a fome” e “Fome vem com balaio na cabeça e barraco no chão”.

A SUDENE chegou a fazer estudos com base nestes artigos.

Um fato singular, que mostra quanto o repórter pode beneficiar a coletividade, foi à reportagem que escrevi no JORNAL DO COMMÉRCIO, em 18 de fevereiro de 1966 sobre a filha sobrevivente de TOBIAS BARRETO, que residia num quarto, em favela recifense.

O Jornal do Commércio soube da existência dessa descendente de Tobias Barreto e incumbiu-me de identificá-la.

Foi difícil.

Andei de cartório em cartório no Recife.

Visitei bairros da periferia.

Fui a hospitais, abrigos e delegacias de polícia.

Até que encontrei uma octogenária, que vivia em bairro periférico, num quarto de três metros quadrados, que lhe foi dado por “favor”.

Ali estava a filha de um dos maiores juristas brasileiros: TOBIAS BARRETO.

O nome dela, Calíope Barreto Menezes.

Com idade avançada, tinha boa memória.

Levei-a para o “roteiro da saudade” nas ruas do Recife, quando chorou intensamente, ao percorrer a chamada Rua Tobias Barreto.

Ao passar diante do Teatro Santa Izabel, dona Calíope observou que ali o seu pai se encontrava com Castro Alves, com quem depois se indispôs, em razão de “amores” clandestinos.

Diante da Faculdade de Direito do Recife, dona Calíope meditou e disse:

Aqui meu pai fez concurso três vezes, tirando em primeiro lugar todas as ocasiões. Só foi nomeado na última vez, por interferência de D. Pedro II. Era prejudicado pelas pessoas, que tinham muita inveja dele”.

Dona Calíope confessou que nenhuma autoridade, tinha ouvido os seus apelos, por uma pensão mensal.

A série de reportagem teve grande repercussão em Pernambuco.

A revista “Cruzeiro”, na época a de maior circulação nacional, adquiriu os direitos autorais e publicou como matéria de capa.

Dona Calíope recebeu do Governador Paulo Guerra a doação de uma casa para morar e pensão vitalícia.

O escritor e ministro Marcos Vinicius Vilaça pediu-me o texto para publicação na Academia Pernambucana de Letras, dizendo que o fato integrava a história do Estado de Pernambuco.

 

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