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Radicalização de Bolsonaro foi sugerida por núcleo ideológico para municiar militância digital

Postado às 05h25 | 26 Mar 2020

A radicalização do discurso adotada pelo presidente Jair Bolsonaro em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV nesta terça-feira (24) foi uma sugestão do grupo ideológico do Palácio do Planalto, formado pelo chamado "gabinete do ódio".

A estratégia, segundo assessores presidenciais, é a de tentar polarizar o debate no esforço de municiar o eleitorado bolsonarista a voltar a sair em defesa do governo.

Entre as pessoas com quem Bolsonaro se reuniu nesta terça antes de gravar o pronunciamento está o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), um de seus filhos e o principal defensor de que o presidente mantenha um discurso mais ideológico e anti-imprensa. Carlos tem forte influência no gabinete do ódio

O encontro não estava previsto inicialmente, mas foi inserido na agenda ao fim do dia. Além de Carlos, participaram do encontro os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Onyx Lorenzoni (Cidadania), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Walter Braga Netto (Casa Civil). O senador Flavio Bolsonaro (sem partido-RJ) e o ex-jogador de futebol Paulo César Tinga também estavam presentes.

Após a publicação desta reportagem, o ex-jogador divulgou nota negando participação em reunião sobre o discurso. Ele disse ter discutido apenas amenidades com Bolsonaro, sem cunho político.

Nos últimos dias, segundo relatos feitos à Folha, o núcleo digital da Presidência da República constatou uma desmobilização de perfis de direita nas redes sociais, que passaram a defender menos o presidente de ataques da esquerda.

A avaliação é a de que, diante do clima de animosidade, era hora de orientar a militância digital apontando inimigos, no caso os veículos de imprensa e os governos estaduais, mobilizando os eleitores fiéis a responderem às críticas contra a gestão federal.

Além disso, ao criticar o desaquecimento da atividade econômica, o presidente, segundo deputados aliados, tentou criar uma vacina: a de que um eventual aumento do desemprego no futuro não é responsabilidade sua, mas dos governos estaduais que adotaram medidas de contenção.

A estratégia adotada pelo presidente, no entanto, não é consenso no governo. O texto foi feito sem a participação de seus ministros.

Antes da gravação do discurso, de acordo com auxiliares palacianos, alguns integrantes do núcleo militar, cientes de que ele pretendia radicalizar o tom, tentaram dissuadir Bolsonaro.

Para eles, aumentar o clima de conflagração pode ter o resultado oposto ao pretendido: o de fortalecer o discurso dos governos estaduais e o de levar eleitores do presidente a abrirem mão do apoio.​

Desde o início da semana, a cúpula militar vinha tentando moderar o discurso do presidente. Foram eles, por exemplo, que convenceram Bolsonaro a promover videoconferências com governadores em busca de um consenso nacional.

O presidente deixou para esta quarta-feira (25) o último encontro, com os governadores da região Sudeste, com as presenças de João Doria (São Paulo) e Wilson Witzel (Rio de Janeiro).

Ele conversou na segunda (23) com os gestores de estados de Norte e Nordeste e, nesta terça (24), com governos do Sul e Centro-Oeste.

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