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Para especialistas, BNDES não tem mais 'caixa-preta' para abrir

Postado às 05h26 | 18 Jun 2019

Globo

 Gustavo Montezano , novo presidente do BNDES, terá que definir o papel do banco e atender à pressão do ministroPaulo Guedes e do presidenteJair Bolsonaro pela devolução de recursos ao Tesouro, a venda de bilhões em ações de sua carteira, o impulso às privatizações e a “abertura da caixa-preta” do banco. Segundo especialistas, muitas dessas missões esbarram em dificuldades operacionais — e, no caso da “caixa-preta” , no fato de que esse trabalho já foi feito em gestões anteriores.

Ainda na época do PT, o presidente Luciano Coutinho reagiu a pressões e deu acesso a informações sobre contratos de exportação de serviços de engenharia, como o Porto de Mariel, em Cuba. Tornou públicas ainda informações sobre 1.753 contratos domésticos. Em 2016, no governo Temer, o banco passou a mostrar cópias integrais dos contratos de exportação. Em 2018, começou a exibir no site mais detalhes sobre as operações. Este ano, Joaquim Levy — que pediu demissão no domingo — apresentou de forma organizada dados sobre os maiores tomadores de recursos e apresentou em uma página informações sobre exportações, inclusive contratos inadimplentes.

— Bolsonaro precisa ser mais preciso sobre o que chama de caixa-preta. Os dados já estão disponíveis. O trabalho já foi feito — afirmou Sérgio Lazzarini, do Insper. — Tenho a impressão de que há a expectativa de que se apontem culpados, funcionários que tenham recebido propina, que haja no BNDES um escândalo como houve na Petrobras. Até agora, não há indícios disso.

Os procuradores da operação Bullish, que analisou aportes na JBS, tentaram atribuir crimes a cinco funcionários do banco, mas o juiz responsável rejeitou a denúncia contra eles no mês passado, afirmando que as evidências “negam peremptoriamente qualquer interferência, influência, orientação, pressão, constrangimento ou direcionamento” nos aportes. Permaneceram como acusados Coutinho e o ex-ministro Guido Mantega.

Segundo a economista Elena Landau, o novo presidente tem condições de acelerar a venda dos mais de R$ 100 bilhões em ações na carteira do BNDES. Mas, segundo fontes, uma dificuldade é o fato de que funcionários temem que as operações sejam feitas sem o devido cuidado, o que geraria problemas junto ao Tribunal de Contas da União (TCU). Outra dificuldade é o tamanho: despejar um volume grande de ações num prazo curto tende a levar a desvalorizações, o que faria o banco perder dinheiro.

— O BNDES perdeu a capacidade de conduzir os programas de privatização. Mas talvez a culpa não seja dele. Não vemos iniciativa disso no governo — acrescentou Elena. — Quanto à devolução dos recursos ao Tesouro, o BNDES é 100% estatal. Logo, se a diretriz é pagar empréstimo, então tem que fazê-lo. Mas o banco deveria pensar também em seu papel além do fiscal. E isso não se faz em seis meses.

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