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Opinião: "Milei faz o que Bolsonaro não fez no Brasil"

Postado às 05h33 | 22 Dez 2023

Ney Lopes

Na última quarta, o presidente Javier Milei da Argentina começou a “abrir o jogo” de como será o seu governo.

Falou à nação e proferiu discurso corajoso, mesmo deixando algumas lacunas abertas, em relação ao futuro.

Comparando com o Brasil, Milei fez o que o presidente Bolsonaro deixou de fazer.

Ao invés de propor mudanças concretas na largada do governo, Bolsonaro preferiu declarar que começava a governar com “céu de brigadeiro”.

Talvez por isso, autorizou nos primeiros meses de governo, mudanças nas aposentadorias de militares.

Durante todo o seu período, enfrentou dificuldades com o legislativo e judiciário.

Milei anunciou, de saída, medidas duras.

Outorgou megadecreto, que denominou “Necessidade e Urgência (DNU).

Disse que irá atacar o déficit, começando por desbloquear todas as regulamentações que pretendem fornecer soluções, mas só geram problemas.

Fez contundentes críticas à classe política.

As reformas incluídas no DNU são realmente ultra liberalizantes, algumas diretrizes inéditas até nos Estados Unidos.

Pelo atual quadro econômico da Argentina, Milei e sua equipe terão que desarmar uma bomba perigosa.

O problema é que esbarram em restrições gritantes.

Além do mais, todo benefício retirado vem com dor.

Análise inicial das medidas anunciadas mostram situações que terão que ser muito bem reguladas no futuro, em função dqa necessidade de  preservar o interesse social e não apenas garantir a liberdade individual.

Como se percebe, Milei reproduz Adam Smith, o teórico do liberalismo econômico, no século XVIII, cuja teoria priorizava a liberdade e a propriedade privada.

Há um trecho no seu livro “Riqueza das Nações” que expõe o conceito do autor acerca da liberdade econômica:

“Não é da bondade do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse.”.

Quer dizer, Smith acreditava que o mercado livre expressava a virtude das pessoas mais racionais, e que indivíduos menos capacitados poderiam prejudicar a sociedade.

Há grande exagero nessa concepção.

Mesmo no chamado mercado perfeito, as pessoas agem não apenas  pelo interesse individual, mas também por influencias sociais, religiosas etc.

Por exemplo, não é possível considerar que determinado grupo social investirá na poupança por ser racional.

As razões podem estar até no lado oposto.

O Reino Unido foi o centro hegemônico da acumulação de capital, durante todo século XIX.

Todavia, de nenhuma maneira chegou nessa posição por adotar o livre-mercado individualista.

Sempre considerou válida a presença do estado como agente regulador e não interventor.

A prova é que lá surgiu o "welfare state" (estado do bem estar) fundado nos direitos sociais universais dos cidadãos

Será dificil Milei fazer tudo que promete.

Percebe-se que ele adota a estratégia do fato consumado, ao editar decretos e transferir ao judiciário e legislativo a responsabilidade de viabilizá-los

Nestes primeiros dias, anunciou-se um problema a menos para o desmantelamento da armadilha kirchnerista.

Ao contrário de algumas versões, a China comunicou que nada mudará em relação a Argentina.

Considerando que há compromisso da liberação de empréstimos consideráveis em dólares, a notícia  facilitará os planos de  swaps do governo, ou sejam, as operações com troca de “riscos”, feitas em juros, moedas ou commodities.

Pode até colaborar na dolarização pretendida por Milei.

A verdade é que nunca foi tão atual a expressão: agora, é esperar para ver!

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