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Ney Lopes, hoje, na "Tribuna do Norte": Análise: para onde caminha a Europa?

Postado às 04h24 | 05 Fev 2020

Na madrugada da última sexta feira, 31, em clima de alívio e melancolia, tremulou a bandeira vermelha, azul e branca, do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, anunciando a saída definitiva da União Europeia (UE), no chamado “Brexit”, abreviação de “Britain Exit”, uma expressão inglesa que significa “saída britânica”.

Para entender o “Brexit”, necessário conhecer a União Europeia, que nasceu em 1957, sob a forma de uma comunidade econômica e monetária (euro, moeda única, adotada por 19 países), na qual os membros (atualmente 27) formam grande mercado único.

O objetivo é criar ambiente de paz, harmonia e equilíbrio na Europa, através de instituições supranacionais, como o Parlamento Europeu (751 eurodeputados, eleitos pelo voto popular, proporcionalmente às populações de cada país) e o Tribunal de Justiça (um juiz de cada país), que julga questões relativas às leis comuns da União Europeia.

Por ironia do destino, a ideia original da “união” surgiu do primeiro ministro “inglês” Winston Churchill, em 1946, ao propor os “Estados Unidos da Europa”.

O Reino Unido da Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia, País de Gales e a Irlanda do Norte) foi o primeiro país a abandonar o bloco, no qual ingressou em 1973, quando a economia inglesa estava estagnada e a “comunidade” passava por “boom” de crescimento. De Gaulle “vetou” duas vezes essa entrada.

Na verdade, o espírito hegemônico, de dominação e colonialista dos britânicos fez com que nunca acreditassem na integração europeia. Mantiveram sempre “um pé dentro e outro fora”.

A situação se agravou, com a criação, em 1998, do Banco Central Europeu da moeda única, para competir com o dólar.  Os ingleses reivindicaram a sede em Londres. No final, a Alemanha ganhou (Frankfurt) a “chave do cofre”. O Reino Unido nunca “engoliu”.

Agora, consumou-se a vitória do isolamento e do egoísmo, defendido pelo atual primeiro ministro Boris Johnson. Com aparência estonteante, olhos cintilantes e cabelo desgrenhado (?), ele afirmou que era o início de uma “nova era”.

Prevaleceu o nacionalismo xenófobo, que destrói a “unidade pela paz” e favorece o ressurgimento de rivalidades e beligerâncias entre os países europeus, a exemplo daquelas que deram origem a I e II guerras mundiais. 

A “nova era” de Johnson poderá levar a dissolução do Reino Unido. A Escócia votou em peso pela permanência na União Europeia e pressiona por um novo plebiscito de independência. A Irlanda do Norte ameaça unir-se à República da Irlanda.

Neste contexto persiste o dilema: para onde caminha o Reino Unido? 

Após o anuncio do “Brexit”, a moeda inglesa (libra) desvalorizou mais de 10%.  Disparou o número de britânicos que preferem continuar “europeus” e procuram cidadania em outros países do “bloco”. A cidade de Londres começa a perder brilho, com a transferência de sedes de bancos e grandes empresas.

No Reino Unido, 45% das exportações eram dentro da UE, com isenção de tarifas. Agora, para ter acesso ao mercado único terá que pagar impostos normais.  Quanto a imigração, os defensores da permanência alegam que a saída não reduzirá o número e exemplificam que os países europeus fora da UE têm taxa de imigração maior que o Reino Unido.

A previsão da CNI é que o prejuízo do Brasil, com reduções de exportações, seja de U$ 700 milhões dólares.

Sou entusiasta da União Europeia, por ter participado diretamente das relações políticas mútuas entre o Parlamento Latino Americano (PARLATINO) e o Parlamento Europeu. O objetivo dessa parceria era conhecer a integração política e econômica da Europa, visando tornar realidade a Comunidade Latino-Americana de Nações, cuja criação está prevista na Constituição de 1988, artigo 4°, parágrafo único:

 “A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”.

Em nome dos parlamentares latino-americanos, a convite do senador Enrique Jackson, então Presidente do Senado do México, apresentei aos chefes de Estado reunidos em Guadalajara (México, 2004), na “III Cúpula da América Latina, Caribe e União Europeia”, a minuta da ata de criação da Comunidade Latino Americana de Nações.

Até hoje, nenhuma decisão concreta foi adotada.

A conclusão é que o “Brexit” põe em risco a União Europeia. Jackson Society, historiador da Universidade Cambridge, resume o desvario do “nacionalista” (!!!) Boris Johnson, ao afirmar: “o primeiro ministro não quer um Reino Unido, mas sim uma Europa “somente” britânica”.

 

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