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Ney Lopes hoje na "Tribuna do Norte": "Análise: agonia da classe média"

Postado às 10h15 | 12 Fev 2020

As incertezas dos cenários econômico, político e social (interno e externo) justificam certas reflexões. Imaginava-se que a democracia e o capitalismo somente poderiam capitular, diante de ideologias totalitárias como o nazismo, ou o exército vermelho.

A evolução histórica mostra o contrário.  

Os sintomas globais são de que as democracias correm riscos de crises, por ações ou omissões dos próprios governos eleitos.

Os “tempos novos” fazem com que até alguns lúcidos defensores da economia de mercado priorizem o combate a concentração de renda e desfaçam a antiga noção, de que simplesmente o combate à pobreza evitaria as tensões sociais.

Sem “papas na língua”, Armínio Fraga, dono de Banco e ex-comandante do Banco Central, após dizer-se “liberal progressista” e não temer ser chamado de esquerda, declara que “ muita coisa contribui para essa desigualdade que temos no país. 

Acho que o Estado tem que ser um Estado que possa fazer certas coisas para essa trajetória de redução das desigualdades se materializar. O Estado não precisa ser mínimo, a desigualdade social está travando a economia”.

É ainda de Armínio Fraga a proposta de “revisão” dos subsídios indevidos, desonerações fiscais, sem prestação de contas, vantagens tributárias não geradoras de emprego em curto prazo e juros subsidiados para “alguns privilegiados”.

Ele fecha o seu raciocínio, afirmando que “essas revisões arrumariam dinheiro para investir no social” e que o “combate à desigualdade ajudaria também no crescimento econômico (BBC News Brasil)

Nos Estados Unidos, o bilionário candidato à presidência Michael Bloomberg, propõe grandes aumentos de impostos sobre empresas e indivíduos abastados. Justifica dizendo que, para combater a desigualdade econômica, são necessárias “novas receitas” e sistema tributário mais justo e progressivo.

Até o símbolo do capitalismo, a búlgara Kristalina Georgieva, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, em recente entrevista ao “The Guardian, afirma que um dos maiores desafios da economia em todo o mundo é a diminuição do fosso crescente de desigualdade entre ricos e pobres.

“Se nos anos anteriores, o FMI recomendava apenas políticas econômicas liberais, a situação do mundo hoje está fazendo com que as orientações mudem” – declarou.

Neste contexto, evidencia-se a “agonia da classe média”.

Para o cientista político David Soskice, diretor do “International Inequality Institute”, da London School of Economics), a principal consequência das crises é o empobrecimento desse segmento social, causando a desesperança social.

Nota-se a queda crescente da renda do serviço público, dos empreendedores pequenos e médios, assalariados em geral, todos transformados em “boi de piranha” dos males sociais e convocados a “pagar o pato sozinhos”.

Cabe esclarecer que não se justifica a “demonização da riqueza”. Em matéria de economia, somente a riqueza gera e distribui riqueza.

Há, entretanto, diferença entre o empreendedorismo verdadeiro, que tem a coragem de enfrentar risco e aquele que acumula riqueza sob a proteção do “guarda-chuva oficial”, aplicando a máxima “lucro privado; prejuízo estatal”.

O “Edelman Trust Barômetro”, instituto de comunicação americana, pesquisou 34 mil pessoas em 28 países sobre o que acham da democracia ocidental e capitalismo, com resultados preocupantes.

A falta de confiança no capitalismo foi maior na Tailândia e na Índia, com 75% e 74%, respectivamente. A França logo atrás, com 69%. Idênticos percentuais em outros estados da Ásia, Europa, Golfo África e América Latina.

Constata-se que as rejeições à democracia e ao capitalismo revelam insatisfação social, concentrada na classe média”.  A consequência são os “gilets jaunes” (protestos sociais na França), ou os grupos populares chilenos, cantando e bailando nas ruas a música “El Baile de Los Que Sobran”, da banda “Los Prisioneos”.

Os fatos incontroversos confirmam a necessidade da “divisão de sacrifícios”, ao invés da “mão única”, na hora de implantação das reformas necessárias e inadiáveis.

Nada mais, nada menos, do que usar o “bom senso”, sem o temor do frequente “patrulhamento” de “radicais” e “intolerantes”, da esquerda e da direita.

Certamente, quem não enxergar e pagar “pra ver”, assistirá a explosão social, que não é desejada.

Já Thomas Paine (1737-1809), um dos pais fundadores dos Estados Unidos da América, afirmava: “Sempre se concluirá, que quando os ricos protegem os direitos dos pobres, os pobres protegem a propriedade dos ricos”.

 

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