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Ney Lopes em artigo publicado na "Tribuna do Norte": "A busca de um estadista para o Brasil"

Postado às 04h37 | 09 Mai 2018

Artigo de Ney Lopes publicado hoje, 9, no conceituado jornal Tribuna do Norte, de Natal, RN.

Em véspera de eleições estaduais e presidencial, a perplexidade domina todos os brasileiros pela ausência no debate eleitoral de nomes que possam ser tidos como futuros estadistas no comando da nação. O momento nacional exige isso.

Estadista seria aquele governante, que não atue apenas pelo sucesso do seu próprio governo, mas trabalhe numa visão das necessidades futuras, criando as bases sólidas desse futuro, mesmo enfrentando a impopularidade.

Estadista foi, por exemplo, Abraham Lincoln, que depois de uma guerra civil sangrenta teve coragem para afirmar, diante dos soldados sepultados no Cemitério de Gettysburg, que não havia vencedores nem vencidos, mas sim uma nação inteira vitoriosa. Correndo todos os riscos, aboliu a escravatura nos Estados Unidos.

Com determinação, Konrad Adenauer recuperou a Alemanha destroçada e a fez reposicionar-se como uma das grandes potências do Ocidente.

A França avançou na última eleição, com o surgimento inesperado de Emanoel Macron, que dá sinais de estadista, não sendo de direita nem de esquerda, ostentando a bandeira da democracia e do multilateralismo.

Macron visitou recentemente Donald Trump. Comportou-se como estadista, surpreendendo ao discursar no Capitólio, quando foi interrompido 23 vezes pelos aplausos entusiásticos da plateia (19 delas, os congressistas aplaudiram de pé).

O curioso é que, antes do pronunciamento, o presidente norte-americano dizia no “Twitter”, que estava "desejoso" de ouvi-lo, acrescentando: "Ele vai ser ótimo”. Após o vigoroso discurso de Macron, Trump silenciou.

Por quê?

Pelo fato de que o destrambelhado presidente americano é a antítese das qualidades exigidas para um estadista. Age por impulso, ameaças, idas e vindas, slogans, recado via Twitter e, sobretudo, confiando na sua condição de homem milionário.

Macron teve a coragem de se opor a dois atos de absoluta insensatez do governo Trump: a ameaça americana de saída definitiva do Acordo de Paris e a revogação unilateral, sem diálogo, do acordo nuclear com o Irã.

Ao abordar o acordo de Paris disse esperar que os Estados Unidos recuassem e lembrou: "Ao poluir os oceanos, ao reduzir a biodiversidade, nós matamos o nosso planeta. Não há um planeta B”.

Cabe relembrar que Trump, quando se negou a assinar o Acordo de Paris, usou argumentos egoístas e pseudo nacionalistas, como por exemplo, que havia sido eleito para favorecer empresas petrolíferas e os mineiros do carvão, um dos principais poluentes atmosféricos, responsável inclusive por problemas respiratórios.

Levantamentos de universidades e centros de pesquisa de diferentes países do mundo, concluem que a saída americana acrescenta 3 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) emitido por ano na atmosfera. Verdadeiro crime contra a Humanidade!

Outro tema abordado por Macron foi o acordo com o Irã, assinado pelo estadista Barack Obama e que o atual presidente americano, com ar de zombaria, considera “terrível, insano e ridículo”.

Pura psicose!

Como argumentou Macron, o acordo integra o contexto de tentativas de paz no Oriente Médio. Insensível a tudo e a todos, Trump levanta “factoides”, sem provas concretas, e usa a velha retórica de colocar Teerã como patrocinador do terrorismo no mundo.

Enquanto isso há indícios veementes de que, recentemente, esse mesmo Trump - “nacionalista e belicista” - “facilitou” apoio ao Estado Islâmico, nos combates na província síria de Deir-Ezzor.

Diante de tantos dilemas e contradições, os franceses parecem ter entregue o governo a um estadista.  

Muitas vezes, os estadistas surgem, da noite para o dia, atuando acima de suas notórias limitações, resolvendo problemas e crises que jamais se imaginaria serem capazes de debelar.

Essa é a esperança, que ainda se pode nutrir em relação ao Brasil. Será difícil, mas não impossível, que isso aconteça em outubro próximo.

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