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Hoje, na festa do Oscar chegou o momento de Hollywood se mostrar moderna

Postado às 05h39 | 24 Fev 2019

Ubiratan Brasil - ESTADO

Chegou a hora de os integrantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood mostrarem que a mais poderosa indústria da sétima arte está conectada com a realidade mundial. Como fazer isso? Basta premiar, no domingo, 24, Pantera Negra com o Oscar de melhor filme e consagrá-lo como a primeira HQ a receber essa estatueta na história. Mais: premiar Roma no que for possível (direção, fotografia, roteiro original, filme estrangeiro) e passar um recado para o mercado: reconhecemos, sim, a Netflix como nova potência da indústria do cinema.

E, o que seria uma das maiores zebras de todas as 91 edições do Oscar, oferecer a estatueta de melhor atriz para a mexicana Yalitzia Aparicio, que se tornaria a primeira mulher indígena a faturar esse prêmio.

Exageros à parte, sempre que um não americano conquista uma estatueta importante, a comemoração é grande, pois a maioria dos jornalistas ali é formada por estrangeiros - isso inclui também britânicos e australianos. Assim, uma sucessão de vitórias de Alfonso Cuarón, que deve ser eleito o melhor diretor, assim como Roma deve ser escolhido o melhor filme estrangeiro, vai ser recebida com aplausos entusiasmados na sala de imprensa.

Antes de continuar, um parênteses: confesso ter participado de alguns momentos assim, ainda que não por vitória brasileira, mas quando o músico argentino Gustavo Santaolalla venceu dois anos seguidos: em 2006, por Brokeback Mountain, e no ano seguinte, por Babel. Na época, cheguei a conversar com ele em Los Angeles, mas, anos depois, em 2012, fui a Buenos Aires onde ele preparava um musical, Arrabal, que teria coprodução brasileira e no qual o tango seria essencial para contar a história. Pena que não vingou. 

Uma vitória de Roma também consagraria a estratégia da Netflix que, segundo apuração do jornal The New York Times, preparou um esquema meticuloso de persuasão, em busca dos votos dos eleitores da Academia. Para isso, contratou uma estrategista chamada Lisa Taback, veterana de campanhas do Oscar que ganhou experiência na Miramax com Harvey Weinstein na década de 1990 e cujo currículo inclui os vencedores de melhor filme, como O Discurso do ReiO Artista e Spotlight - Segredos Revelados. Weinstein, como todos sabemos, foi excluído da indústria depois de acusado sexual por um grande número de mulheres.

Lisa Taback comandou um gasto avaliado entre US$ 25 milhões e US$ 30 milhões em promoção, que contou, inclusive, com mimos como a reconstrução de um dos cenários do filme para que os convidados (ou seja, votantes da Academia) fizessem selfies. Eles também acompanharam uma mostra das roupas usadas no longa e Cuarón e sua equipe participaram por horas de painel de discussões.

Muitos condenam esse tipo de persuasão, pois favorece quem tem mais dinheiro para aplicar em promoção. Hollywood já tentou conter os mais abusados, até para evitar a ascensão de figuras como Weinstein. Mas o poder do dinheiro é muito forte e, por vezes, ilimitado.

Finalmente, aguardamos para saber quanto tempo, afinal, vai durar a cerimônia de domingo. A principal produtora da cerimônia, Donna Gigliotti, cravava em três horas - lembrando que, no ano passado, a festa beirou as quatro horas. Para isso, Donna tomou a corajosa decisão de deixar a divulgação de quatro categorias (fotografia, edição, curta-metragem e maquiagem e penteado) para os momentos de intervalo na transmissão pela TV.

A pressão contrária, porém, foi tão poderosa que ela foi obrigada a voltar atrás. Não sem antes anunciar que, por isso, a cerimônia deverá durar mais que três horas. Uma prova de fogo para alguns, um deleite para outros. Prazer maior ainda se surgir um apresentador surpresa, como já especulei aqui, na Supercoluna anterior. Um nome forte é o de Whoopi Goldberg. Tomara, pois pode ser delicioso.

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