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"Globo" sobre encontro histórico de Brasília: "Um entendimento a ser preservado em nome do país"

Postado às 05h19 | 22 Mai 2020

Editorial do Globo

A videoconferência realizada ontem entre Bolsonaro e governadores, mediada pelos presidentes da Câmara e Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, conseguiu interromper a escalada da crise política criada pela radicalização do presidente da República, assim que se viu limitado em suas ações pelo Legislativo e Judiciário, como ocorre na República.

Foi um progresso que pode ser decisivo, porque, sem entendimento entre governadores, prefeitos, Executivo federal e Legislativo, não é possível enfrentar as dificuldades que já desabam sobre a nação, atingindo, para começar, os mais vulneráveis na sociedade. Bolsonaro, cordato, se mostrou disposto a buscar este caminho.

Neste contexto, o clima de entendimento existente ontem na reunião conduzida pelo próprio Bolsonaro é um fato político importante, um marco nesses quase 17 meses do governo. O caixa de estados e municípios, sufocado pela queda de receitas provocada pela recessão já iniciada, precisa da ajuda de repasses da União para cobrir suas despesas, acrescidas pelos gastos adicionais causados pela epidemia da Covid-19. A maioria dos leitos ocupados pelas vítimas do Sars-CoV-2 é municipal e estadual.

O entendimento entre o presidente e o resto da Federação ocorreu em torno de alguns vetos no projeto de ajuda à Federação, destacando-se a supressão da permissão de aumentos salariais para servidores, um contrassenso no momento em que as contas públicas explodem devido ao crescimento dos gastos e queda das receitas. Como o Planalto desejava, os governadores deram seu apoio a um veto que tem ainda caráter de justiça social, por fazer com que o funcionalismo, com emprego garantido, ao menos contribua com o não recebimento de reajustes até o final do ano que vem, enquanto centenas de milhares de assalariados do setor privado estão ou serão desempregados ou começam a perder parte dos salários. Agora, os governadores precisam ajudar o governo na manutenção da medida no Congresso, contra interesses de corporações sindicais.

O êxito da reunião feita remotamente com todos os 27 governadores é dado pelo comportamento sereno de Bolsonaro e a cordialidade do seu maior adversário político atual, o governador de São Paulo, João Doria. Na última vídeoconferência dos dois, brigaram. Um dos quatro governadores a falar — além de Reinaldo Azambuja (MS), Renato Casagrande (ES) e Eduardo Leite (RS), este em uma pequena intervenção —, Doria foi rápido, cumprimentou o presidente pela forma com que ele conduzia o encontro e completou: “Nós precisamos, sim, estar unidos. Vamos em paz, presidente.

Vamos pelo Brasil e vamos juntos”. Bolsonaro agradeceu as palavras ao “senhor governador” e deu-lhe os “parabéns” por essa posição. A imprevisibilidade presidencial é conhecida. Mas ele também obteve uma vitória política e deveria preservá-la. Sem um trabalho conjunto, o custo da crise será ainda mais elevado. O povo pagará boa parte do preço, junto com os políticos.

 

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