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EUA e China dão sinais de que a economia global vai desacelerar

Postado às 04h19 | 11 Mar 2019

Dados econômicos das duas principais economias do mundo, Estados Unidos e China, intensificaram entre analistas o temor de uma desaceleração econômica global, que poderia até apontar para uma eventual recessão. Os EUA, segundo relatório divulgado ontem, registraram, em fevereiro, a criação de 20 mil empregos, bem abaixo das estimativas do mercado financeiro, de 180 mil vagas. Foi o pior resultado em 17 meses.

Na Ásia, as bolsas de valores fecharam em queda após o anúncio de que as exportações da China recuaram 20,7% em fevereiro, na comparação interanual, segundo informações da Administração Geral das Alfândegas chinesa. O resultado veio abaixo das expectativas projetadas por economistas e ocorreu em meio às disputas comerciais entre o país e os EUA. Em outro sinal de esfriamento da economia chinesa, as importações diminuíram 5,2% no mesmo período. As últimas estimativas dos analistas apontavam crescimento de 6% a 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês em 2019.

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Na Zona do Euro, a preocupação com a fraqueza da economia foi manifestada por Mário Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), na quinta-feira, quando anunciou que deve prolongar o período de taxas de juros mais baixas da história. Ontem, o Índice europeu de ações Euro Stoxx 50 fechou em baixa de 0,69%. Por fim, permanecem as incertezas sobre a condução da política monetária dos EUA pelo Fed (Federal Reserve, o banco central do país).

Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, observa que as autoridades econômicas mundiais procuram, neste momento, conceder estímulos às economias, em um momento de redução do crescimento global. “O mundo está entrando em uma fase de desaceleração, dando fim àquele ciclo de avanço que observamos em 2015. Isso está se esgotando”, alertou. Na visão de Rosa, é possível observar a diminuição do crescimento na Zona do Euro, assim como a estagnação da economia japonesa e a perda de força da China, segunda maior economia do planeta.

Rosa mostra preocupação também com os dados dos EUA, onde o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, fechou estável, em ligeira queda de 0,09%, ontem. “Apesar de a taxa de desemprego no país ser baixa, dados econômicos de maior frequência já mostram uma economia em desaceleração, principalmente pelo aperto monetário conduzido pelo Fed, além da dissipação de estímulos fiscais concedidos anteriormente”, afirmou. O economista calcula que o Fed deve anunciar, pelo menos, mais uma elevação dos juros no segundo semestre. Os juros básicos estão entre 2,25% e 2,5% ao ano.

Efeitos

André Perfeito, economista-chefe da Necton Corretora, pondera que, apesar de o esfriamento econômico global ser sentido mais intensamente em determinadas regiões, os EUA ainda conseguem apresentar bons dados. “Vários países estão tendo de cortar gastos em meio a um crescimento modesto. Nos EUA, que até agora escapou dessa conjuntura, o que mostra problemas é a disputa comercial com a China”, observou.

Perfeito aponta dois efeitos negativos do desquecimento global no Brasil. “Certamente, ele atinge a balança comercial, além de tornar os investidores, no mercado financeiro, mais cautelosos (migrando da renda variável para fixa), saindo da euforia”, pondera.

O mercado já teme que uma eventual recessão global ocorra em um cenário adverso, ideia que é alimentada por decisões protecionistas de diversos governos, segundo César Bergo, sócio analista da OpenInvest. “Nos Estados Unidos, as medidas de Donald Trump apontam para um protecionismo exacerbado, assim como na Europa, com os governos tentando manter as principais cadeias produtivas. Na China, o presidente Xi Jinping também entra nesse jogo. Essa conjuntura começa a ser incorporada pelo investidor como uma possível recessão, o que, a meu ver, ainda não está configurada”, explicou.

Patricia Pereira, da Mongeral Aegon Investimentos, disse que a desaceleração da economia mundial dá espaço ao Brasil para manter os juros baixos. “O crescimento mais fraco faz os países desenvolvidos continuarem com estímulos monetários”, afirmou. “Isso para países emergentes é positivo, porque permite atração de investimentos e ajuda na previsibilidade da política monetária.”Por outro lado, o desaquecimento  mundial é ruim para crescimento do país. “Vamos vender para quem? Um mundo que cresce menos compra menos”, disse. (CB)

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