Notícias

Entenda como a desaceleração da China pode afetar a economia mundial e do Brasil

Postado às 07h49 | 18 Jan 2020

Os números mais recentes da economia chinesa mostram que o gigante asiático cresceu 6,1% em 2019, o menor avanço em 29 anos. A desaceleração do gigante asiático, paralelamente ao acordo comercial com os EUA, cuja primeira fase foi firmada nesta semana, pode reduzir o apetite chinês por produtos brasileiros, na avaliação de especialistas.

Por outro lado, analistas afirmam que a expansão menor da China não será capaz de frear o crescimento global. Na opinião deles, outras nações podem lançar medidas de estímulo para assegurar a expansão internacional, especialmente se as incógnitas que rondam a economia chinesa reduzirem ainda mais o seu ritmo de crescimento.

Comércio:Acordo entre EUA e China pode gerar uma perda ao Brasil de US$ 10 bilhões em exportações

Entenda os riscos que ainda pairam sobre a economia da China e como sua desaceleração pode afetar a economia mundial e a do Brasil.

Riscos para a economia chinesa

O futuro da economia chinesa - se ela vai desacelerar num ritmo maior ou menor do que o registrado até agora - ainda é incerto, uma vez que ainda pairam dúvidas sobre o acordo comercial entre Pequim e Washington.

O acordo preserva tarifas sobre US$ 360 bilhões em compras anuais de produtos fabricados na China, o que manterá a pressão sobre as fábricas chinesas a longo prazo.

Cronologia:A guerra comercial entre Estados Unidos e China

— Neste momento, estamos olhando para o copo meio cheio. Os mercados são extremamente otimistas e tendem a ver o lado positivo — disse Hao Zhou, economista sênior do Commerzbank. — Temos que ter em mente que o copo também está meio vazio.

O maior ponto de pressão da economia chinesa, entretanto, pode ser o endividamento das empresas. Anos de crescimento baseado em empréstimos e grandes gastos fizeram com que empresas e governos locais acumulassem enormes dívidas.

Nos últimos três meses de 2019, o volume de pagamentos atrasados das empresas a seus clientes, empregados e credores chegou a um recorde, de acordo com a consultoria econômica China Beige Book.

Fórum EconômicoImpacto com perdas na Amazônia pode ultrapassar US$ 3 trilhões

Por estarem com o caixa escasso, mais e mais companhias chinesas passaram a pagar com espécies de notas promissórias, conhecidos como letras comerciais, em vez de pagarem suas contas em dinheiro. Em meados do ano, havia cerca de US$ 200 bilhões dessas letras em circulação.

E, com a desaceleração, alguns dos mais importantes setores da economia da China foram diretamente afetados. Na indústria automobilística local, as vendas caíram mais de 8% no ano passado, em comparação com 2018. E o mercado imobiliário, importante engrenagem da economia chinesa, também vem enfrentando dificuldade.

— A China busca fazer uma transição de sua economia, querendo ser menos dependente de negociações internacionais e de investimentos para passar a ter no consumo das famílias sua fonte de crescimento para o PIB — diz Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da FGV. — Essa transição é difícil e custosa. As projeções é que o PIB da CHina siga crescendo entre 6% ou até mesmo 5% nos próximos anos.

Impacto no Brasil

A combinação do menor crescimento econômico da China e o acordo comercial com os EUA, que prevê a compra de bens agrícolas americanos pelos chineses, pode afetar negativamente a economia brasileira, na opinião de especialistas. No comércio global, Brasil e EUA competem na venda de produtos agrícolas.

— Se a economia da China estivesse acelerando, as concessões para os americanos não afetariam tanto o país. Mas como o cenário é o inverso, de PIB avançando menos, o Brasil acaba sendo prejudicado duplamente, pois a China é o país que mais compra bens brasileiros - afirma Luiz Carlos Prado, professor de Economia Internacional da URFJ.

Com HuaweiChina supera Alemanha em patentes concedidas nos EUA

Marcos Jank, pesquisador e professor sênior de Agronegócio do Insper, concorda que o Brasil será afetado tanto pelo acordo quanto pelo menor crescimento chinês.

— O mundo saiu de uma guerra tarifária para uma era de comércio administrado a partir do acordo entre China e Estados Unidos. São mais de 20 páginas no acordo para tratar de agronegócio. Todo esse comércio bilateral pode prejudicar outros parceiros da chineses, como o Brasil — diz Marcos Jank, pesquisador e professor sênior de Agronegócio do Insper. — Se a economia da China cresce menos é ruim para o Brasil, o acordo "fase 1" pode ser pior.

Impacto na economia mundial

Os economistas ponderam que o resultado da economia chinesa em 2019 não surpreendeu. Na avaliação deles, outros países do Sudeste Asiático e inclusive da Europa podem lançar medidas de estímulo para fazer com que a economia global siga crescendo.

— O resultado do PIB chinês de 2019 corrobora a perspectiva de uma redução do crescimento global. Entretanto, outros países estão avaliando lançar medidas para reaquecer a economia mundial. Na Europa, por exemplo, há discussões sobre a criação de políticas industriais mais sustentáveis.

Jank destaca que outros países da Ásia podem até superar o crescimento da China, mudando um pouco o cenário de desaceleração da atividade global:

— Os países do Sudeste Asiático, em especial a Índia, podem desbancar a China. A economia chinesa cresce menos, entre outros motivos, porque a população está envelhecendo. Dado este cenário, o motor econômico da Ásia pode deixar de ser unicamente a China e passar a incorporar outros países da região. (Globo)

 

Deixe sua Opinião