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"E agora: como será o amanhã?" - artigo de Ney Lopes publicado na Tribuna do Norte de hoje

Postado às 03h54 | 11 Abr 2018

"Tribuna do Norte" publica hoje, 11, artigo de Ney Lopes sobre o indecrifrável quadro político brasileiro.

Leia o texto na íntegra a seguir:

Fecharam-se os prazos para as possíveis candidaturas, na eleição de outubro próximo.

Somente quem se filiou a partido, ou se desincompatibilizou de função pública, está habilitado para a disputa.

O fato novo, que coincidiu com o término dos prazos eleitorais no último sábado, foi a prisão do ex-presidente Lula, com o país arrasado pela maior crise política e moral da sua história.

Tem razão o jornal “Le Monde”, ao escrever que uma página da história do Brasil se fecha e “ninguém é ainda capaz de avaliar as consequências que o choque dessa prisão vai provocar no destino do país”.

Lula preso e condenado por corrupção aprofunda a devastação nacional, que registra no poder um Presidente com 90% de rejeição popular e um Congresso com dezenas de parlamentares investigados por corrupção.

Tal cenário leva a indagação sobre “quem será o próximo”, além de provocar a polarização dos protestos de seguidores petistas e a euforia daqueles que comemoram a desgraça do líder detido.

Como se não bastasse a crise política, o caos se acentua no aumento crescente da violência.

Entre 2001 e 2015 houve 786.870 homicídios, o equivalente à população de João Pessoa.

Desde o início da guerra da Síria, em 2011, morreram em média 400.000 pessoas.

A guerra de Iraque soma cerca de 300 mil mortes, desde 2003.  

Brasil ostenta o galardão de ser o país que mais mata no século XXI.

Nesse contexto, aproximam-se as eleições gerais de outubro, com sinais sombrios e nebulosos, acerca de perspectivas de mudanças estáveis.

O Congresso Nacional traiu a confiança da Nação, ao aprovar retalhos de uma reforma política, feita de tal maneira, que apenas favoreceu a renovação dos atuais detentores de mandatos, a base de criminoso mecanismo de financiamento, manipulado pelo fundo partidário e eleitoral.

Só um milagre, decorrente da “revolução pelo voto”, permitirá a realização do sonho de dias melhores e o surgimento de uma classe política mais criativa, comprometida com a ética pública.

Incrivelmente, faltando apenas poucos meses para o pleito presidencial, as incógnitas predominam no rol das opções possíveis de candidatos: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afastado pela lei da “ficha limpa” e a possibilidade de ser substituído por Fernando Haddad (PT-SP), ou Patrus Ananias (PT-MG); Ciro Gomes (PDT), inegavelmente de idoneidade incontestável, em razão da lisura de comportamento em vários cargos que ocupou, inclusive o Ministro da Fazenda; Geraldo Alckmin (SP) sonhando em polarizar a centro-direita, porém com sérios obstáculos à frente pela denuncias de corrupção em SP e a prisão de Paulo Preto, que seria o “operador financeiro” do seu partido; Jair Bolsonaro (PSC-RJ), João Amoêdo, do Novo, Rodrigo Maia e o empresário Flávio Rocha, todos em defesa da direita política e econômica; o ex-ministro Meirelles tentando recuperar os espaços do MDB, que sofreu significativo esvaziamento com a recente “janela partidária”; e por fim, em faixa própria correm Álvaro Dias, Marina Silva e agora Joaquim Barbosa (PSB).

Os maiores complicadores político-eleitorais serão os efeitos da prisão do ex-presidente Lula, se ele se afasta da candidatura e se permanecerá preso, ou não.

Caso o ex-presidente continue preso e impedido de registrar-se como candidato surge a dúvida, se os votos revelados nas pesquisas seriam dele ou do partido e se estando de fora, outro candidato conseguiria reunir esses sufrágios.

Todos esses fatores conduzem, de um lado ao retardamento até agosto da campanha da centro-esquerda e, por outro, criam dificuldades para o processo de aglutinação da centro-direita, diante da impossibilidade de conhecimento do adversário.

A cada dia, portanto, aumenta a imprevisibilidade e a responsabilidade do cidadão-eleitor, que na condição de juiz dará a sentença final na hora de votar.

Do seu julgamento livre, dependerá o futuro da Nação.

Por enquanto, em momento de inegável perplexidade, prevalece a dúvida da canção de Simone:

“Como será o amanhã? Responda quem puder”!

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