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Bolsonaro reúne os líderes que tentou desprezar.

Postado às 04h52 | 26 Fev 2019

Josias de Souza

Nos primeiros dois meses de governo, Jair Bolsonaro equilibrou-se num salto mais alto do que a prudência recomendava. Viveu a ilusão de que obteria governabilidade no Legislativo relacionando-se apenas com as bancadas temáticas.

Na semana passada, ao comparecer ao Congresso para entregar pessoalmente a reforma da Previdência, o capitão trocou o modelo agulha por um discreto salto Anabela, mais compacto e próximo do chão. Nesta terça-feira, ao receber para uma conversa os líderes partidários que desejava desprezar, Bolsonaro será convidado a calçar as  sandálias da humildade. O presidente tentou consolidar a imagem do governante que se divorciaria da política do toma-lá-dá-cá. 

Rejeitou o velho modelo como se jurasse viver separado dos líderes que encarnam a velha política até que a morte os juntasse. Sem votos no Legislativo, Bolsonaro descobre agora, mais cedo do que gostaria, que o grande problema de um rompimento político definitivo é a reconciliação constrangedora. Os líderes da banda profissional do Legislativo colocam Bolsonaro na roda.

Está entendido que é dando que o novo governo receberá os votos de que necessita no Legislativo. O ressurgimento da ciranda desgasta a imagem do presidente. O tamanho desse desgaste depende da capacidade de Bolsonaro de fazer uma conta do tipo custo-benefício, impondo limites ao balcão. O presidente ainda finge ser protagonista de um enredo original. Chama de "banco de talentos" o sistema de preenchimento de cargos públicos baseado no apadrinhamento fisiológico. Logo, logo Bolsonaro perceberá com quem está lidando.

Nesse jogo, vale uma máxima cunhada pelo deputado mineiro José Bonifácio, que morreu há 33 anos. Zezinho Bonifácio, como era conhecido, dizia o seguinte aos deputados novatos:  "Aqui no Congresso tem de tudo. Tem ladrão, tem honesto, tem canalha, tem gente séria… Só não tem bobo." Bolsonaro sabe como a coisa funciona, pois passou 28 anos de sua vida dentro da Câmara dos Deputados. Os líderes partidários, agora reconhecidos como interlocutores necessários, querem apenas abreviar o surto de amnésia do presidente.

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