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Bolsonaro e Trump não suportam assessores que brilham mais do que eles

Postado às 10h16 | 25 Mar 2020

Zero Hora

Não é só ao negar a realidade do coronavírus, atacar a imprensa e contrariar recomendações de seus mais próximos assessores no gabinete de crise que o presidente Jair Bolsonaro emula o mentor Donald Trump. Ambos têm a seu lado técnicos altamente capacitados e que, aos poucos, ganham visibilidade pela liderança em meio à crise - destaque que tem incomodado e provocado ciúmes aos dois presidentes afeitos a monopolizar os holofotes. 

Por aqui, Bolsonaro não consegue esconder o desconforto com o sucesso do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na liderança das iniciativas para o enfrentamento da pandemia. Nos bastidores, sabe-se que o presidente está chateado com a visibilidade de Mandetta e com os elogios a seu subordinado - o pronunciamento de Bolsonaro, na noite de quarta-feira (24), em cadeia nacional, revela mais uma vez o comportamento diametralmente oposto a de seu ministro.

Nos Estados Unidos, Trump tem a seu lado um dos maiores especialistas em infectologia do mundo, o doutor Anthony S. Fauci, desde 1984 diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas. Fauci não é invenção trumpiana. Ele assessora todos os presidentes americanos desde Ronald Reagan, passou várias vezes por republicanos e democratas e sobreviveu por competência ao pântano de Washington, pra usarmos uma expressão que o atual presidente costumava usar na campanha. É um técnico, que honra o juramento de Hipócrates e, acostumado às pressões do Salão Oval, não costuma ceder à política. Sua autonomia e respeito perante a opinião pública lhes permite maior autonomia. As frases do dr. Fauci estão vários graus acima de preocupação do que as de Trump - embora o presidente americano tenha alterado o tom nos últimos dias, ainda deixa escapar, com ironia, seu desdém pela ameaça planetária. 

Os dois já discordaram publicamente. Uma das ocasiões foi há uma semana, quando Trump referiu-se a uma possível vacina contra a covid-19 supostamente em teste nos EUA e a irresponsável fala do chefe sobre a cloroquina, medicamento usado no combate à malária, provocaram falso otimismo e uma uma corrida às farmácias.

Em alguns briefings da Casa Branca, ao lado do presidente, é visível como o dr. Fauci parece se segurar quando o presidente minimiza os riscos do coronavírus ou mesmo fala inverdades.

- Não posso pular na frente do microfone e empurrá-lo para baixo. Ok, ele falou aquilo. Vamos tentar corrigir o que ele disse na próxima vez - confessou em entrevista à Revista Science.

Dr. Fauci e o ortopedista Mandetta têm chefes ciumentos, que temem sombra. Mas, para o bem das populações americana e brasileira, é bom que continuem a falar e discordar. Enquanto a Casa Branca e o Planalto permitirem.

 

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